A maior prova de que os bons tempos
do futebol espanhol ficaram para trás é que a primeira jogada deles foi um
lançamento longo que foi morrer na linha de fundo adversária. É claro que com o
passar do tempo eles foram se adaptando e o jogo de passes e posse estava de
volta, mas nunca com aquela eficiência mostrada há seis anos na Copa da África
do Sul. Motivo? Não há em todo o elenco um único jogador que consiga jogar como
Xavi. O meia era o coração do Tiki-Taka, sendo o principal responsável pelo
ritmo de jogo lento que eles conseguiam imprimir antigamente. Busquets é muito
bom passador, talvez até melhor que Xavi, mas ele não consegue ler, se mexer e
controlar o tempo com a eficiência que o esquema tático pede. O tiki-taka é,
antes de tudo, um esquema muito lento onde você testa a paciência e o foco do
seu adversário, mas sem os jogadores certos pode fazer o feitiço virar contra o
feiticeiro e criar um nível de relaxamento muito grande durante a troca de
passes. A Espanha desse jogo pareceu tentar fugir dessa condição de relaxamento
e muitas vezes desistiu do seu jogo característico para tentar mais bolas
enfiadas que basicamente batiam e voltavam. E se a bola batia e voltava era
porque havia um muro.
A República Tcheca de agora é
definitivamente uma equipe muito mais frágil do que aquela que foi terceira
melhor do mundo no Ranking da FIFA em 2006. O ótimo meio campo que tinha
Nedved, Poborsky, Rosicky e Plasil acabou desmanchando e a equipe foi renovada.
Daquele time de 2006 sobraram apenas Plasil, Rosicky e Chec, agora cercados por
jogadores que atuam em mercados menores ou na liga nacional, especialmente no
bom time do Sparta Praha. Com um elenco mais fraco tecnicamente a República
Tcheca decidiu que ia jogar no contra ataque, mas, conforme a partida foi
avançando e a Espanha foi recuperando seu ritmo normal de jogo, a seleção
tcheca foi recuando e recuando até que não houvesse mais nenhuma possibilidade
de contras. O mapa de calor do jogo deixa muito claro isso. Do lado esquerdo
(cor laranja) temos a movimentação dos defensores de linha espanhóis (quatro
jogadores) e do lado direito (cor azul) temos a movimentação dos meias e homens
de ataque da República Tcheca (seis jogadores). O resultado é mais que o dobro
de passes, sendo que o espaço mais ocupado dos defensores espanhóis já fica
dentro do campo adversário, enquanto o mais usado pelos atacantes tchecos é na
frente da grande área defensiva.
Não dá pra dizer que não deu certo,
afinal foram 87 minutos bem-sucedidos de defesa, mas com certeza o ponto contra
os espanhóis fará falta quando a primeira fase terminar.
O futuro da Espanha
O ataque não funcionou e o uso de
dois jogadores abertos foi uma grande estupidez por parte de Vicente del
Bosque. Nolito foi muito mal e virou presa fácil para as dobras aplicadas pelo
time tcheco. Morata foi acionado várias vezes e não correspondeu. O ideal é
mudar o esquema: sair do 4-3-3 e adotar o 4-4-2 pode ser a melhor ideia para
que o time consiga render nos próximos jogos. Busquets poderia ir para o banco
e Fàbregas e Thiago seriam uma boa opção para o meio campo defensivo enquanto Iniesta
e David Silva poderiam armar para os centroavantes Aduriz e Morata.
O futuro da República Tcheca
O próximo jogo é contra a Croácia e
eles terão que sair um pouco mais, mas provavelmente não dará certo. Ainda que
alguns jogadores tenham qualidade, o geral é muito inferior contra qualquer
outra equipe do grupo. Vão jogar na retranca e tentar achar uma bola esparsa, o
que não vai acontecer contra a ótima defesa croata.
O craque do jogo
Iniesta comanda a nova geração
espanhola com uma qualidade de condução superior a todos os seus companheiros
de equipe, mas o melhor da partida foi o goleirão Petr Chec. A Espanha teve
várias chances de abrir o placar bem antes do gol derradeiro de Piqué, mas
sempre que a bola ia para o gol Chec estava lá para garantir a igualdade. Não
deu pra levar pontos no jogo, mas atuação de ontem foi uma das melhores de sua
longeva carreira.
Suécia x Irlanda
Não pude acompanhar essa partida,
mas pelos dados do WhoScored parece que a Irlanda é só um pouquinho melhor que
a Irlanda do Norte. A sorte deles foi que o adversário era a limitadíssima
Suécia que, sai ano, entra ano, parece ser cada vez mais dependente de
Ibrahimovic. Pontuais:
- Hoolahan fez um gol espetacular e foi fundamental para o bom funcionamento da equipe. Marcou, armou e foi o melhor jogador da partida.
- Melhor história da Euro até agora: a torcida irlandesa estava ocupando uma rua parisiense e fazendo uma festa absurda com MUITA cerveja e cantoria. O lugar que eles ocuparam antes do jogo contra a Suécia foi o “Harp Bar” na Boulevard de Clichy, famosa rua da região central parisiense. Um senhorzinho, morador da região, saiu na varanda para ver o movimento e instantaneamente se tornou o foco dos torcedores, sendo aplaudido e festejado por todos. Quando ele decidiu voltar para dentro de casa, vaias e reclamações começaram a estourar, mas o herói improvável voltou à varanda e levou os irlandeses ao delírio.
Bélgica x Itália
A Bélgica é provavelmente o lugar
onde mais nascem bons jogadores no mundo. Os seus atletas estão espalhados por toda
a Europa e eles já chegaram a ser a seleção número um do mundo. Já a Itália
passa por um processo de reconstrução bem lento e pouquíssimos jogadores de
nível mundial têm aparecido na liga nacional; liga esta que vive um péssimo
momento em competições europeias. O futebol italiano em crise e o ascendente
futebol belga se encontraram na primeira jornada do grupo E. Resultado? Vitória
da Itália, claro.
Quando a Bélgica perde um jogo para
uma seleção mais “tradicional” não tem jeito, um monte de gente carniceira sai
dos piores buracos do mundo para começar os seus processos difamatórios contra
a chamada “geração Playstation”. Afinal, apostar que uma seleção que tem valor
de mercado com pouco mais que a metade da outra é bem plausível. O que alguns
se negam a entender é que muitas vezes a Bélgica perde porque tem problemas
táticos, não técnicos. Quando foi eliminada em uma difícil partida contra a
Argentina na Copa do Mundo de 2010 a Bélgica deixou de apresentar uma melhor
qualidade tática do que o ótimo time de Alejandro Sabella, ainda que os
jogadores de seu selecionado fossem, no geral, melhor do que os do adversário.
Dois anos depois, com elenco mais experiente e desenvolvido, a estreia na Euro
é uma nova e melancólica derrota contra uma equipe campeã mundial. A Bélgica
tem time para ganhar esta Eurocopa e a próxima Copa do Mundo, mas é fato que
Marc Wilmots não está conseguindo fazer as coisas funcionarem como deveria.
De Bruyne, por exemplo, brilhou no
Wolfsburg e foi o melhor jogador do Manchester City na última temporada, assim
como Hazard já mostrou que é um dos melhores do mundo. Lukaku é artilheiro desde
os 18 anos e todos os outros jogadores do time titular são destaques em suas
equipes na Champions ou na Liga Europa. Se eles se destacam assim em ligas
domésticas, porque não conseguem na seleção? Wilmots convocou mal a seleção,
deixando alguns bons jogadores como Thorgan Hazard, Nabil Dirar e Guillaume
Gillet e não consegue acertar a escalação da equipe para um jogo. Não soube ler
o esquema tático defensivo italiano e não se adaptou a velocidade do contra
deles. Candreva e Darmian (depois De Sciglio) pareceram os melhores laterais do
mundo frente à lentidão da defesa belga e os meias conseguiram infiltram sem
nenhuma dificuldade. E que fique claro que não foi como se os italianos
tivessem dado um espetáculo ou que eles sejam realmente favoritos ao título,
ainda precisam provar que conseguem render frente a um time mais organizado.
Futuro da Bélgica
Wilmots precisa entender que seu
país não consegue formar laterais e abandonar a ideia de jogar com defensores abertos.
Ciman é péssimo e Vertonghen é um desastre no apoio ofensivo. O ideal seria
fazer uma linha de três zagueiros com Alderweireld, Vermaelen e Vertonghen e
usar De Bruyne e Hazard nas laterais do meio de campo. No meio, seria
importante a entrada do ótimo Moussa Dembelè no lugar de Fellaini para dar mais
distribuição à equipe. O grande problema da Bélgica contra a Itália foi fazer a
bola chegar à grande área para os centrais terem condições de finalizar. Lukaku
ficou parado o jogo todo esperando uma sobra que nunca veio. Uma equipe com
tanto poder de fogo tem que jogar de maneira mais agressiva, por isso acho
fundamental que Yannick Carrasco ou Origi formem uma dupla de ataque junto com
Lukaku.
Futuro da Itália
A vitória dá tempo para que a equipe
possa se arrumar melhor e conseguir entrosamento para a próxima fase. Não acho
que sejam favoritos, mas tem o melhor sistema defensivo entre as seleções do
mundo.
O craque do jogo
Não só pelo golaço no final do jogo,
mas pela ótima participação o craque do jogo com certeza foi Graziano Pellè.
Curiosidade: nem só de alegrias
viveram os atletas italianos: após cada um dos gols alguém da equipe se
machucou. Primeiro foi técnico Antonio Conte, que machucou o nariz nacomemoração do gol de Giaccherini, depois foi Buffon que caiu no chão após ogol de Pellè.
Curiosidade II: It’s me, MARIO!
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