quinta-feira, 16 de junho de 2016

Diários da Euro 2016: Dia 4

            Espanha x República Tcheca

            A maior prova de que os bons tempos do futebol espanhol ficaram para trás é que a primeira jogada deles foi um lançamento longo que foi morrer na linha de fundo adversária. É claro que com o passar do tempo eles foram se adaptando e o jogo de passes e posse estava de volta, mas nunca com aquela eficiência mostrada há seis anos na Copa da África do Sul. Motivo? Não há em todo o elenco um único jogador que consiga jogar como Xavi. O meia era o coração do Tiki-Taka, sendo o principal responsável pelo ritmo de jogo lento que eles conseguiam imprimir antigamente. Busquets é muito bom passador, talvez até melhor que Xavi, mas ele não consegue ler, se mexer e controlar o tempo com a eficiência que o esquema tático pede. O tiki-taka é, antes de tudo, um esquema muito lento onde você testa a paciência e o foco do seu adversário, mas sem os jogadores certos pode fazer o feitiço virar contra o feiticeiro e criar um nível de relaxamento muito grande durante a troca de passes. A Espanha desse jogo pareceu tentar fugir dessa condição de relaxamento e muitas vezes desistiu do seu jogo característico para tentar mais bolas enfiadas que basicamente batiam e voltavam. E se a bola batia e voltava era porque havia um muro.


            A República Tcheca de agora é definitivamente uma equipe muito mais frágil do que aquela que foi terceira melhor do mundo no Ranking da FIFA em 2006. O ótimo meio campo que tinha Nedved, Poborsky, Rosicky e Plasil acabou desmanchando e a equipe foi renovada. Daquele time de 2006 sobraram apenas Plasil, Rosicky e Chec, agora cercados por jogadores que atuam em mercados menores ou na liga nacional, especialmente no bom time do Sparta Praha. Com um elenco mais fraco tecnicamente a República Tcheca decidiu que ia jogar no contra ataque, mas, conforme a partida foi avançando e a Espanha foi recuperando seu ritmo normal de jogo, a seleção tcheca foi recuando e recuando até que não houvesse mais nenhuma possibilidade de contras. O mapa de calor do jogo deixa muito claro isso. Do lado esquerdo (cor laranja) temos a movimentação dos defensores de linha espanhóis (quatro jogadores) e do lado direito (cor azul) temos a movimentação dos meias e homens de ataque da República Tcheca (seis jogadores). O resultado é mais que o dobro de passes, sendo que o espaço mais ocupado dos defensores espanhóis já fica dentro do campo adversário, enquanto o mais usado pelos atacantes tchecos é na frente da grande área defensiva.
            Não dá pra dizer que não deu certo, afinal foram 87 minutos bem-sucedidos de defesa, mas com certeza o ponto contra os espanhóis fará falta quando a primeira fase terminar.

            O futuro da Espanha

            O ataque não funcionou e o uso de dois jogadores abertos foi uma grande estupidez por parte de Vicente del Bosque. Nolito foi muito mal e virou presa fácil para as dobras aplicadas pelo time tcheco. Morata foi acionado várias vezes e não correspondeu. O ideal é mudar o esquema: sair do 4-3-3 e adotar o 4-4-2 pode ser a melhor ideia para que o time consiga render nos próximos jogos. Busquets poderia ir para o banco e Fàbregas e Thiago seriam uma boa opção para o meio campo defensivo enquanto Iniesta e David Silva poderiam armar para os centroavantes Aduriz e Morata.

            O futuro da República Tcheca

            O próximo jogo é contra a Croácia e eles terão que sair um pouco mais, mas provavelmente não dará certo. Ainda que alguns jogadores tenham qualidade, o geral é muito inferior contra qualquer outra equipe do grupo. Vão jogar na retranca e tentar achar uma bola esparsa, o que não vai acontecer contra a ótima defesa croata.

            O craque do jogo

            Iniesta comanda a nova geração espanhola com uma qualidade de condução superior a todos os seus companheiros de equipe, mas o melhor da partida foi o goleirão Petr Chec. A Espanha teve várias chances de abrir o placar bem antes do gol derradeiro de Piqué, mas sempre que a bola ia para o gol Chec estava lá para garantir a igualdade. Não deu pra levar pontos no jogo, mas atuação de ontem foi uma das melhores de sua longeva carreira.




            Suécia x Irlanda

            Não pude acompanhar essa partida, mas pelos dados do WhoScored parece que a Irlanda é só um pouquinho melhor que a Irlanda do Norte. A sorte deles foi que o adversário era a limitadíssima Suécia que, sai ano, entra ano, parece ser cada vez mais dependente de Ibrahimovic. Pontuais:

  •         Hoolahan fez um gol espetacular e foi fundamental para o bom funcionamento da equipe. Marcou, armou e foi o melhor jogador da partida.






            Bélgica x Itália

            A Bélgica é provavelmente o lugar onde mais nascem bons jogadores no mundo. Os seus atletas estão espalhados por toda a Europa e eles já chegaram a ser a seleção número um do mundo. Já a Itália passa por um processo de reconstrução bem lento e pouquíssimos jogadores de nível mundial têm aparecido na liga nacional; liga esta que vive um péssimo momento em competições europeias. O futebol italiano em crise e o ascendente futebol belga se encontraram na primeira jornada do grupo E. Resultado? Vitória da Itália, claro.
            Quando a Bélgica perde um jogo para uma seleção mais “tradicional” não tem jeito, um monte de gente carniceira sai dos piores buracos do mundo para começar os seus processos difamatórios contra a chamada “geração Playstation”. Afinal, apostar que uma seleção que tem valor de mercado com pouco mais que a metade da outra é bem plausível. O que alguns se negam a entender é que muitas vezes a Bélgica perde porque tem problemas táticos, não técnicos. Quando foi eliminada em uma difícil partida contra a Argentina na Copa do Mundo de 2010 a Bélgica deixou de apresentar uma melhor qualidade tática do que o ótimo time de Alejandro Sabella, ainda que os jogadores de seu selecionado fossem, no geral, melhor do que os do adversário. Dois anos depois, com elenco mais experiente e desenvolvido, a estreia na Euro é uma nova e melancólica derrota contra uma equipe campeã mundial. A Bélgica tem time para ganhar esta Eurocopa e a próxima Copa do Mundo, mas é fato que Marc Wilmots não está conseguindo fazer as coisas funcionarem como deveria.
            De Bruyne, por exemplo, brilhou no Wolfsburg e foi o melhor jogador do Manchester City na última temporada, assim como Hazard já mostrou que é um dos melhores do mundo. Lukaku é artilheiro desde os 18 anos e todos os outros jogadores do time titular são destaques em suas equipes na Champions ou na Liga Europa. Se eles se destacam assim em ligas domésticas, porque não conseguem na seleção? Wilmots convocou mal a seleção, deixando alguns bons jogadores como Thorgan Hazard, Nabil Dirar e Guillaume Gillet e não consegue acertar a escalação da equipe para um jogo. Não soube ler o esquema tático defensivo italiano e não se adaptou a velocidade do contra deles. Candreva e Darmian (depois De Sciglio) pareceram os melhores laterais do mundo frente à lentidão da defesa belga e os meias conseguiram infiltram sem nenhuma dificuldade. E que fique claro que não foi como se os italianos tivessem dado um espetáculo ou que eles sejam realmente favoritos ao título, ainda precisam provar que conseguem render frente a um time mais organizado.

            Futuro da Bélgica

            Wilmots precisa entender que seu país não consegue formar laterais e abandonar a ideia de jogar com defensores abertos. Ciman é péssimo e Vertonghen é um desastre no apoio ofensivo. O ideal seria fazer uma linha de três zagueiros com Alderweireld, Vermaelen e Vertonghen e usar De Bruyne e Hazard nas laterais do meio de campo. No meio, seria importante a entrada do ótimo Moussa Dembelè no lugar de Fellaini para dar mais distribuição à equipe. O grande problema da Bélgica contra a Itália foi fazer a bola chegar à grande área para os centrais terem condições de finalizar. Lukaku ficou parado o jogo todo esperando uma sobra que nunca veio. Uma equipe com tanto poder de fogo tem que jogar de maneira mais agressiva, por isso acho fundamental que Yannick Carrasco ou Origi formem uma dupla de ataque junto com Lukaku.

            Futuro da Itália

            A vitória dá tempo para que a equipe possa se arrumar melhor e conseguir entrosamento para a próxima fase. Não acho que sejam favoritos, mas tem o melhor sistema defensivo entre as seleções do mundo.

            O craque do jogo

            Não só pelo golaço no final do jogo, mas pela ótima participação o craque do jogo com certeza foi Graziano Pellè.


            Curiosidade: nem só de alegrias viveram os atletas italianos: após cada um dos gols alguém da equipe se machucou. Primeiro foi técnico Antonio Conte, que machucou o nariz nacomemoração do gol de Giaccherini, depois foi Buffon que caiu no chão após ogol de Pellè.
            Curiosidade II: It’s me, MARIO!


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