quarta-feira, 9 de março de 2016

A Segunda Vinda


            No final da temporada 83/84 europeia uma notícia abalou o mundo do futebol: Diego Armando Maradona, um dos mais importantes jogadores do mundo, estava indo para o pequeno, mas tradicional, Napoli da Itália. Após uma passagem turbulenta pelo Barcelona o garoto problemático da Argentina chegava numa equipe que pouco prometia para seu futuro. Era o inicio do final da carreira daquele que fora uma das maiores promessas do futebol mundial. Ou pelo menos era para ter sido assim. Foi em Nápoles que Maradona fez o seu nome de fato: foram 259 jogos, 199 gols, dois Campeonatos Italianos, uma Coppa Italia, e a histórica UEFA Cup de 1989. Foi artilheiro, melhor jogador do mundo, transformou o Napoli numa potência nacional e levou o nome da equipe para o mundo todo. Deu-se tão bem na equipe e na cidade que conseguiu convencer os torcedores locais a torcerem pela seleção argentina contra a seleção italiana na Copa de 1990. O estilo de vida rebelde fez dele um par perfeito para um povo se sentia mais nação que cidade. A relação do Napoli com o meia argentino era tão forte que, após sua saída devido os problemas com drogas, ambos viveram um período de decadência. Em 2004 Maradona quase morreu por causa da cocaína e o Napoli chegou a declarar falência. Com os tratamentos Maradona voltou, o mesmo aconteceu com time, salvo pelo produtor Aurelio De Laurentiis. Maradona chegou a treinar a Argentina na Copa de 2010, enquanto o time napolitano voltou para a Champions League após subir todas as divisões do futebol italiano. Mas ainda faltava muito para retornar as glórias, faltava um Maradona, uma segunda vinda.

            29 anos depois da chegada de Maradona ao Napoli, outro argentino desembarcava no sul da Itália. Higuaín nunca foi um “World Class” como Maradona, mas sempre foi considerado um dos mais prolíficos atacantes do mundo. Vindo do Real Madrid, muitos acreditavam que o jogador estava entrando em fase de decadência. Na equipe espanhola o atacante alternava entre o banco e a titularidade, sempre um passo atrás de Benzema. Sua chegada à Itália não foi uma surpresa como no caso de Maradona, afinal a equipe Napolitana havia acabado de ganhar muito dinheiro com a venda de Cavani e com patrocínios novos. O Napoli em que chegou Maradona era um time regional, já o em que chegava Higuaín tinha dinheiro e, mais importante, era respeitado de verdade em âmbito europeu.


            O nível do campeonato italiano caiu muito, é claro, mas a subida da equipe na liga nacional é notória. Atualmente eles ocupam a segunda colocação, com 61 pontos (três menos que a Juventus) e 35 no saldo de gols. A campanha deveria ser o suficiente para que a equipe liderasse, estando muito a frente daquilo que foi feito nos anos de Maradona (na campanha de 1987, por exemplo, eles chegaram à 28ª rodada com 55 pontos e vinte gols de saldo). Higuaín é o grande líder de uma equipe formada por jogadores leves, jovens e extremamente técnicos. Já fez 26 gols nesta temporada, sendo artilheiro disparado do campeonato (o dobro do número de gols de Carlos Bacca e Pablo Dybala, vice-artilheiros). Tem também a melhor média de performance segundo o WhoScored, estando na frente de jogadores como Pogba, Dybala e Pjanic. É o jogador que mais finaliza (cinco chutes por jogo), tendo o melhor aproveitamento entre os dez que mais finalizam e o segundo centroavante que mais dribla (atrás de Pablo Dybala, que nem é centroavante de fato). Seu desempenho nessa temporada já superou em muito seus anos anteriores na Liga Espanhola e Argentina. Hoje Higuaín tem a melhor média de gols da carreira e deve ser apenas o sétimo jogador da história a passar os trinta gols numa edição da Serie A. Dependendo das suas performances, pode passar até mesmo os 35 gols de Gunnar Nordhal, ex-Milan, que sobrevive após mais de 60 anos.
            É claro que Higuaín não chega perto do jogador que Maradona foi e nem mesmo será tão importante para os napolitanos quanto o meia foi um dia, provavelmente não terá o mesmo tempo de clube e talvez não veja nenhum título durante seu período na equipe. É difícil lutar contra a potência que a Juventus se tornou no país e contra as equipes europeias que dominam a Liga Europa, campeonato onde a equipe tem patinado. Mas foi Higuaín que trouxe de volta o Napoli, sendo o símbolo da reconstrução do clube após a falência e o cara que conseguiu reafirmar, por meio do futebol, que Napoli pode sim ser um gigante. Tortos como só os argentinos podem ser, Higuaín e Maradona são como um mesmo Messias que transforma o Napoli num gigante do futebol italiano.

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