quinta-feira, 14 de junho de 2018

DIÁRIO DA COPA - DIA 1: O Jogo do Horror!






A torcida russa fez uma bonita festa antes da bola rolar para a abertura da copa: cantou as músicas tocadas na abertura, fez barulho com as entradas das equipes e distribui simpatia durante todo momento. Assim como já pudemos observar em 2014, esta costuma ser uma chance rara de juntar as pessoas de um mesmo país de modo que elas tenham essa mentalidade positiva mostrar para o resto do mundo quais são seus melhores atributos. A festa foi curta, mas ambientou muito bem a partida que em breve se iniciaria. De um lado, os anfitriões, vindos de resultados ruins nos amistosos internacionais e participações decepcionantes nas principais competições (eliminada rapidamente na última Copa e na última Euro). Do outro, uma seleção saudita que sobrou nas eliminatórias asiáticas, mas que simplesmente não apresentava jogadores de renome ou um bom retrospecto fora da AFC. Em suma, tínhamos em nossa frente as duas piores seleções classificadas para o mundial fazendo a partida de abertura da principal competição do futebol de seleções. Uma lástima.
Quando a bola rolou pra valer, um show de horrores. Ambas as equipes não conseguiam trocar mais do que cinco passes certos em sequência, ninguém chutava para o gol e as principais oportunidades apareciam quando as defesas erravam. E isso foi algo fundamental para o resultado final. Como já demonstrou nos últimos anos em que participou de competições internacionais, a Rússia tem uma seleção envelhecida, alta e lenta. Além disso, não tem um verdadeiro criador de jogadas, um passador que encontre os atacantes e possibilite finalizações mesmo contra defesas fechadas. O resultado é um jogo lento, com pouca movimentação ofensiva dos laterais. A equipe da casa demonstrou uma enorme dificuldade ao jogar pelos lados: ainda que pela esquerda Golovin possa realmente fazer a diferença, do lado direito quase nada aconteceu quando a defesa saudita estava bem postada. Samedov foi nulo na criação e Mario Fernandes nada fez para desafogar aquele setor do campo. Dessa forma a Rússia apresentou um sistema defensivo rígido (duro e lento, mas muito bem posicionado), com toda a linha de quatro defensores e os dois bons volantes, mas basicamente foi inexistente quando precisou criar.
Do outro lado, a Arábia Saudita pareceu ter sim uma ideia de jogo, mas simplesmente executou muito mal esta ideia. Muito mais leves, rápidos e baixos que os russos, os sauditas tentavam trocar passes de maneira bem elaborada, mas simplesmente fracassaram quando tiveram que colocar o atacante na frente do gol. Sahlawi, destaque das eliminatórias, foi simplesmente nulo na partida, incapaz de buscar jogadas no meio-campo, sendo basicamente menos um em campo. Basicamente eram duas equipes ruins, errando muito e dependendo de suas defesas para que não sofressem o primeiro golpe. O problema para a seleção da Arábia Saudita é que, ainda que muito fraca tecnicamente, a zaga russa soube se posicionar em campo e corrigir os eventuais erros na criação, já os seus zagueiros... O primeiro gol do jogo nasce de uma falha individual, onde o defensor que deveria cobrir aquela posição simplesmente escorrega e dá espaço para Gazinskiy cabecear com precisão.
Pouco depois do gol a Rússia se vê em péssima situação, com o meia Dzagoev, um dos principais destaques da equipe, sofrendo uma lesão muscular que muito provavelmente deve tirá-lo da Copa. Ainda que pudesse este ser o prenúncio de uma tragédia para o time da casa, o que de fato aconteceu foi uma melhora no jogo russo. No lugar de seu meia de criação (que não criava nada), o treinador russo decidiu colocar o ala/ponta Cheryshev, deslocando Golovin para a armação central. O resultado não poderia ser melhor: com o resultado na sua mão, a Rússia decidiu que a estratégia mais fácil era contra-atacar, dando a bola para que os sauditas fizessem seus passes horrorosos e devolvessem-na com o campo mais aberto para as infiltrações de Golovin, Cheryshev e Smolov. Num desses contra-ataques a Rússia trocou passes rápidos e fez com que a bola chegasse no substituto de Dzagoev: Cheryshev cortou dois zagueiros com um único toque e fuzilou para ampliar o placar.


Precisando sair mais, a Arábia Saudita tirou um volante, o que simplesmente deu ainda mais espaço para Golovin criar jogadas. Além disso, percebendo a fragilidade da defesa saudita, Cherchesov colocou Dzyuba, atacante GIGANTESCO de 1,96, e passou a abusar da bola aérea. Foi assim que a Rússia encontrou seu terceiro gol, liquidando a partida. Já sem perspectivas, a Arábia Saudita se entregou, perdendo toda a sua capacidade ofensiva. Os golaços de Cheryshev e Golovin foram meras formalidades para fechar a partida e a festa da torcida russa
Ainda que tenha conseguido um placar expressivo, a Rússia não demonstrou um futebol de alto nível. A bem de verdade, jogou como joga sempre: lenta e fisicamente. A diferença é que dessa vez encontrou um adversário que, além de ser muito baixo (altura), demonstrou ter sérios problemas defensivos e uma estratégia de jogo que seus jogadores são simplesmente incapazes de realizar. O resultado vai ajudar no futuro da equipe na competição, mas ainda é preciso jogar mais para conseguir um resultado relevante contra o Egito e o Uruguai. Já a Arábia Saudita deve terminar mesmo em último no grupo, mas acho impossível uma derrota deste mesmo nível contra outra seleção do grupo. O desastre saudita só aconteceu graças a uma péssima atuação individual da equipe, e especialmente pela percepção dos russos de que dar a bola para os sauditas talvez fosse a melhor ideia para vencer. Certamente isso não acontecerá contra o Uruguai, que vai atacar do começo ao fim e, por consequência, esconder o que os sauditas têm de pior.

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