A
torcida russa fez uma bonita festa antes da bola rolar para a abertura da copa:
cantou as músicas tocadas na abertura, fez barulho com as entradas das equipes
e distribui simpatia durante todo momento. Assim como já pudemos observar em
2014, esta costuma ser uma chance rara de juntar as pessoas de um mesmo país de
modo que elas tenham essa mentalidade positiva mostrar para o resto do mundo quais
são seus melhores atributos. A festa foi curta, mas ambientou muito bem a partida
que em breve se iniciaria. De um lado, os anfitriões, vindos de resultados
ruins nos amistosos internacionais e participações decepcionantes nas
principais competições (eliminada rapidamente na última Copa e na última Euro).
Do outro, uma seleção saudita que sobrou nas eliminatórias asiáticas, mas que
simplesmente não apresentava jogadores de renome ou um bom retrospecto fora da
AFC. Em suma, tínhamos em nossa frente as duas piores seleções classificadas
para o mundial fazendo a partida de abertura da principal competição do futebol
de seleções. Uma lástima.
Quando
a bola rolou pra valer, um show de horrores. Ambas as equipes não conseguiam
trocar mais do que cinco passes certos em sequência, ninguém chutava para o gol
e as principais oportunidades apareciam quando as defesas erravam. E isso foi
algo fundamental para o resultado final. Como já demonstrou nos últimos anos em
que participou de competições internacionais, a Rússia tem uma seleção
envelhecida, alta e lenta. Além disso, não tem um verdadeiro criador de
jogadas, um passador que encontre os atacantes e possibilite finalizações mesmo
contra defesas fechadas. O resultado é um jogo lento, com pouca movimentação
ofensiva dos laterais. A equipe da casa demonstrou uma enorme dificuldade ao
jogar pelos lados: ainda que pela esquerda Golovin possa realmente fazer a
diferença, do lado direito quase nada aconteceu quando a defesa saudita estava
bem postada. Samedov foi nulo na criação e Mario Fernandes nada fez para desafogar
aquele setor do campo. Dessa forma a Rússia apresentou um sistema defensivo rígido
(duro e lento, mas muito bem posicionado), com toda a linha de quatro
defensores e os dois bons volantes, mas basicamente foi inexistente quando
precisou criar.
Do
outro lado, a Arábia Saudita pareceu ter sim uma ideia de jogo, mas
simplesmente executou muito mal esta ideia. Muito mais leves, rápidos e baixos
que os russos, os sauditas tentavam trocar passes de maneira bem elaborada, mas
simplesmente fracassaram quando tiveram que colocar o atacante na frente do
gol. Sahlawi, destaque das eliminatórias, foi simplesmente nulo na partida,
incapaz de buscar jogadas no meio-campo, sendo basicamente menos um em campo. Basicamente
eram duas equipes ruins, errando muito e dependendo de suas defesas para que não
sofressem o primeiro golpe. O problema para a seleção da Arábia Saudita é que,
ainda que muito fraca tecnicamente, a zaga russa soube se posicionar em campo e
corrigir os eventuais erros na criação, já os seus zagueiros... O primeiro gol
do jogo nasce de uma falha individual, onde o defensor que deveria cobrir aquela
posição simplesmente escorrega e dá espaço para Gazinskiy cabecear com precisão.
Pouco
depois do gol a Rússia se vê em péssima situação, com o meia Dzagoev, um dos
principais destaques da equipe, sofrendo uma lesão muscular que muito
provavelmente deve tirá-lo da Copa. Ainda que pudesse este ser o prenúncio de
uma tragédia para o time da casa, o que de fato aconteceu foi uma melhora no
jogo russo. No lugar de seu meia de criação (que não criava nada), o treinador
russo decidiu colocar o ala/ponta Cheryshev, deslocando Golovin para a armação central.
O resultado não poderia ser melhor: com o resultado na sua mão, a Rússia
decidiu que a estratégia mais fácil era contra-atacar, dando a bola para que os
sauditas fizessem seus passes horrorosos e devolvessem-na com o campo mais
aberto para as infiltrações de Golovin, Cheryshev e Smolov. Num desses contra-ataques
a Rússia trocou passes rápidos e fez com que a bola chegasse no substituto de
Dzagoev: Cheryshev cortou dois zagueiros com um único toque e fuzilou para ampliar
o placar.
Precisando sair mais, a Arábia Saudita tirou um volante, o que
simplesmente deu ainda mais espaço para Golovin criar jogadas. Além disso,
percebendo a fragilidade da defesa saudita, Cherchesov colocou Dzyuba, atacante
GIGANTESCO de 1,96, e passou a abusar da bola aérea. Foi assim que a Rússia
encontrou seu terceiro gol, liquidando a partida. Já sem perspectivas, a Arábia
Saudita se entregou, perdendo toda a sua capacidade ofensiva. Os golaços de
Cheryshev e Golovin foram meras formalidades para fechar a partida e a festa da
torcida russa
Ainda
que tenha conseguido um placar expressivo, a Rússia não demonstrou um futebol
de alto nível. A bem de verdade, jogou como joga sempre: lenta e fisicamente. A
diferença é que dessa vez encontrou um adversário que, além de ser muito baixo
(altura), demonstrou ter sérios problemas defensivos e uma estratégia de jogo
que seus jogadores são simplesmente incapazes de realizar. O resultado vai
ajudar no futuro da equipe na competição, mas ainda é preciso jogar mais para conseguir
um resultado relevante contra o Egito e o Uruguai. Já a Arábia Saudita deve
terminar mesmo em último no grupo, mas acho impossível uma derrota deste mesmo
nível contra outra seleção do grupo. O desastre saudita só aconteceu graças a
uma péssima atuação individual da equipe, e especialmente pela percepção dos
russos de que dar a bola para os sauditas talvez fosse a melhor ideia para
vencer. Certamente isso não acontecerá contra o Uruguai, que vai atacar do
começo ao fim e, por consequência, esconder o que os sauditas têm de pior.
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