Com a aposentadoria de algumas
jogadoras como Daniela Alves e Pretinha e o envelhecimento de outras jogadoras
a seleção começou a perder espaço, deixando de ser presença em finais de torneios
maiores. Enquanto países como Estados Unidos, Alemanha, Suécia, China, Japão,
França, Canadá e Coreia do Norte fortaleciam ligas internas e sustentavam uma
cultura de futebol nas meninas da base, o Brasil passava todo o tempo
cambaleando entre a solidificação de uma liga nacional que desse condições
mínimas para formação e a manutenção de atletas de ponta. Enquanto jogadoras norte-americanas
protestam contra campos com gramados sintéticos na sua liga nacional, vemos nossas
jogadoras protestarem contra a inexistência de uma liga. Avanços aconteceram, é
claro, mas eles foram lentos demais para competir contra o resto do mundo. Por
mais que tenha mais talentos, seria um milagre uma vitória numa competição
contra países que investem muito mais no esporte do que o Brasil.
Após a derrota contra a seleção
canadense a artilheira Cristiane, após ser questionada sobre o que deveria
melhorar no futebol feminino no Brasil, disse que tornar a listar os problemas
poderia soar como uma desculpa frente às derrotas da equipe. Discordo
totalmente. É muito importante que, sempre que um microfone aparecer na frente
de nossas jogadoras, elas denunciem os problemas na estrutura da modalidade. Se
tivessem vencido, nada teria mudado de fato. Vencer ou perder é do jogo e elas
já chegaram longe demais contra seleções muito mais organizadas. Fica a
tristeza pela aposentadoria de Formiga, que demonstra uma disposição surreal
para alguém de 38 anos, e o nosso pedido a Marta: por favor, não desista. Você
não fez nada de errado.
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Aproveito para deixar algumas ideias
e impressões sobre o que eu vi no torneio de futebol feminino nas olimpíadas
(aquele que não é sub-23).
- A mania da torcida brasileira de gritar “bicha” nas cobranças de tiro de meta é algo estúpido e desnecessário, mas que geralmente não ofende os jogadores héteros e descerebrados do futebol masculino. O problema é que no futebol feminino mais atletas são homossexuais e uma situação de desconforto foi criada com as atletas.
- De qualquer forma, palmas para que teve a genial ideia de gritar “Zika” nas cobranças de tiro de meta da Hope Solo.
- Hope Solo, aliás, cometeu mais uma gafe no torneio. Depois da brincadeira desnecessária com o zika vírus, a atleta ganhou os noticiários por chamar a seleção sueca de covarde. Ok que nós até podemos concordar com isso após sofrermos com a retranca delas, mas o problema real é que a técnica da Suécia é Pia Sundhage, a pessoa que subiu Solo ao time principal em 2008 e levou a seleção americana ao título mundial e ao bicampeonato olímpico. O comentário foi mal recebido até mesmo com as companheiras da atleta norte-americana, recebendo a sutil resposta de Sundhage: “Está ok se somos “covardes”, mas vencemos”.
- As duas seleções finalistas tinham mulheres no comando e elas entendem MUITO de futebol.
- O futebol feminino é muito inferior tecnicamente quando comparado com o masculino, mas parece que as mulheres são muito melhores para situações de pressão, como os pênaltis. Hope Solo tem uma mecânica espetacular para pegar bolas que vão ao ângulo superior e as jogadoras brasileiras bateram seus pênaltis com muita qualidade. Rafaelle, zagueira, acertou no ângulo contra a Austrália, mesmo disputa em que Mônica, também zagueira, bateu rasteirinho e devagar para a bola bater no limite da trave. Vencedora de duas disputas pela Suécia, Schelin bateu o famoso “pênalti perfeito” e viu sua goleira pegar três cobranças, sendo o pênalti de Andressinha muito bem batido.
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