EGITO 0 X 1 URUGUAI
Com
toda a expectativa em torno da participação ou não de Salah, o Egito foi para o
campo contra o Uruguai cheio de vontade de fechar a bela caminhada até a
Rússia. Com a ajuda de seu maior craque a seleção conseguiu uma vaga histórica
para o mundial, algo que poucas vezes aconteceu mesmo sendo a maior potência
continental no futebol. Contra eles, uma seleção uruguaia um pouco envelhecida,
mas com alguns bons jovens talentos e as estrelas Cavani e Suárez. Além dos
jogadores, o Uruguai também apresenta nesta Copa a última participação de Oscar
Tabárez como treinador de futebol. O “Maestro” que conseguiu reviver o futebol
nacional se despede após duas Copas do Mundo, sendo a mais marcante a edição de
2010, em que a Celeste chegou às semifinais do torneio.
Logo
no anunciar da escalação a primeira e mais importante manchete do jogo: Mo
Salah no banco. Mesmo sem a sua grande estrela, o Egito adotou uma postura
razoavelmente ofensiva logo no início do jogo, avançando as linhas e marcando
com força os volantes e os laterais. O resultado desta estratégia foi o fato de
que passou a ser função dos zagueiros armar o jogo, ou seja, fazer lançamentos
longos buscando Cavani e Suárez. Esta situação estagnou o ataque uruguaio,
inutilizando completamente os dois volantes da equipe. Para piorar a situação
da equipe sul-americana os dois meias, Arrascaeta e Nandes, não conseguiam ser
eficientes em nada do que faziam, sendo lentos demais e falhando na alimentação
dos atacantes. Arrascaeta, camisa 10 da equipe, só melhorou de fato quando
passou a jogar mais por dentro, mas nem mesmo essa melhora evitou com que fosse
substituído ainda no começo do segundo tempo. Se de um lado o Uruguai, não
tinha criação de jogadas, do outro o Egito também não tinha. De alguma forma, o
Uruguai utilizou a mesma estratégia que os árabes, subindo a marcação para
tentar tirar Elneny do jogo. O resultado, no final, foi um primeiro tempo muito
travado, poucas jogadas bem armadas e atuações individuais fracas. Do lado
Uruguaio, Godín e Varela conseguiam ser os jogadores mais incisivos, o que é
bem maluco quando pensamos que ambos são defensores. Já do lado Egípcio, o bom
destaque foi Warda, que entrou justamente no lugar no lugar de Salah e, além de
fazer algum barulho pelo lado direito, também ajudou demais na contenção do
setor esquerdo uruguaio.
No
segundo tempo pouca coisa mudou, mesmo com as substituições de Cuper e Tabárez.
Sem Salah, o Egito seguiu a sua estratégia, mas com um pouco menos de ímpeto,
passando a se fechar mais e apostando nos contra-ataques. A estratégia até foi
boa, bons lances foram criados, mas nenhum foi de fato aproveitado. Em alguns
momentos era clara a ausência que Salah fazia, não havendo alguém pudesse
aproveitar os espaços para correria que o Uruguai passou a dar. O time de Tabarez
também não mudou tanto a postura, mas com o cansaço do adversário a equipe
sentiu que poderia ser mais agressiva. Suárez teve boas chances de abrir o
placar, mas foi com Cavani que as melhores chances surgiram. Primeiro com uma
pancada espetacularmente defendida pelo goleiro, depois com uma falta cobrada
na trave. Sentindo o momento, o Uruguai cresceu, mas cresceu de uma forma que o
Egito não esperava. Sem saber como reagir à postura do adversário, os egípcios
deixaram de contra-atacar, se recolhendo demais na defesa. Aos 44 minutos de
jogo, com a partida quase acabando, Sanchez jogou bola na área e o zagueirão
Jimenéz subiu mais alto que todo mundo para dar a vitória na estreia para o
Uruguai.
O
que podemos tirar desta partida é que o Uruguai tem problemas seríssimos quanto
à criação: os volantes foram muito mal e os meias abertos simplesmente não
participaram do jogo. Ainda assim, há na seleção uruguaia um espírito
inabalável, além da equipe contar com um ataque espetacular e uma dupla de zaga
que pode garantir até mesmo quando a equipe tem atuações abaixo da média como a
de hoje. Já do lado dos faraós, a volta de Salah é essencial, mas a equipe de
apoio é boa o suficiente para ajudar a estrela. O sistema defensivo é razoável
e o meio até consegue criar situações. O jogo contra a Rússia certamente será
empolgante.
MARROCOS 0 X 1 IRÃ
O
primeiro jogo do grupo B na Copa incluiu as duas seleções mais fracas
possíveis: Marrocos e Irã. Ainda assim, havia alguma expectativa para o jogo,
afinal era a oportunidade de ver a equipe mais quente da África e os melhores
das eliminatórias asiáticas. Enquanto o Marrocos se destaca pela quantidade de
jogadores jovens que atuam em mercados futebolisticamente fortes, o Irã se
destaca pela consistência demonstrada nas últimas grandes competições
internacionais. Obviamente esta era uma partida que a grande maioria iria
deixar passar, mas havia ainda alguma esperança de que o jogo pudesse ser pelo
menos divertido. não foi.
Logo
que a bola rolou já deu para ver qual seria a toada da partida: uma equipe
atacando e outra defendendo. Com mais talento individual, o Marrocos jogou a
partida inteira no ataque, mostrando um bom toque de bola nos primeiros
momentos, além de jogadas ensaiadas e um bom posicionamento dos jogadores. Com
os laterais muito avançados, especialmente Amrabat, a equipe atacou de maneira
consistente, fazendo viradas de jogo e buscando o gol o tempo todo. Com esse
ritmo mais agressivo, todos os jogadores passaram a entrar no jogo: Ziyech
trocava bem as posições com Amrabat, buscava o jogo e flutuava muito bem pelo
campo. Outro jogador que fez a mesma coisa foi Belhanda, o que deu um ritmo de
jogo muito bonito para essa primeira metade do primeiro tempo. Além destes
dois, outro destaque foi Harit. O jovem jogador do Schalke fez uma partida
muito boa durante todos os 90 minutos: driblou, marcou e passou a bola, sendo o
grande destaque da equipe na partida.
Enquanto
isso, o Irã simplesmente olhava o Marrocos jogar, esperando os contra-ataques.
Em uma dessas, no final do primeiro tempo, a equipe iraniana teve a melhor
chance do jogo até ali, sendo parada duas vezes pelo goleiro marroquino. A
ausência de talento atrapalhou demais a seleção do Irã, mas, diferente do que
vimos ontem com a Arábia Saudita, a boa defesa do selecionado garantia o empate
sem gols. Já durante o segundo tempo o jogo mudou, mas mudou para pior. Sem
conseguir criar, Marrocos começou a se frustrar, errando muitos passes simples,
e de alguma forma a equipe pareceu mais displicente no jogo. Confortável com a
situação, o Irã foi simplesmente esperando o tempo passar, até que enfim
pudesse voltar com o seu pontinho sonhado. O jogo, que começara agitado,
tornou-se um marasmo, o pior da competição até aqui. E só piorou quando Amrabat
saiu de campo pelo lado do Marrocos após uma lesão na cabeça. Sem forças, o
Marrocos apagou, desapareceu. O Irã, que já estava satisfeito com o empate,
conseguiu uma última chance, nos acréscimos, com uma jogada de bola parada. O
cruzamento foi cortado pelo defensor marroquino, mas do contrário e contra a
própria meta. 1x0 para o Irã.
Em
um grupo com duas potências, Irã e Marrocos naturalmente seriam azarões,
disputando simplesmente para ver que seria o último. Ainda que haja uma clara
crise na seleção espanhola, é quase impossível imaginar que uma destas equipes
possa eliminar um dos favoritos ao título. Só é uma pena que, neste momento, a
equipe mais próxima disso seja justamente a pior.
PORTUGAL 3 X 3 ESPANHA
Depois
de duas partidas horrorosas (ou três, sei lá), enfim uma partida do nível que a
Copa do Mundo merece. Com atuações espetaculares, golaços, polêmicas e viradas,
as seleções portuguesas e espanholas fizeram o melhor jogo da competição até
aqui. Vinda de uma semana atribulada, cheia de crises internas e com um técnico
que assumiu ONTEM, a seleção espanhola entrou em campo decidida a demonstrar
que ainda estava com o controle da situação e que de fato deveria ser
considerada a favorita da competição. Depois de uma exibição dominante contra a
Alemanha e um atropelo contra a Argentina, quase todas as bolsas de apostas
apontavam a Fúria como a grande favorita dessa edição. Do outro lado, uma
seleção portuguesa renovada em partes, bem diferente daquela que conquistou a
Euro de 2016, e buscando conquistar uma última taça enquanto poderia utilizar a
sua grande estrela da história. Além das histórias das seleções, há também
neste jogo a história dos jogadores: Cristiano Ronaldo e Iniesta jogam as suas
últimas Copas em alto nível e buscam usar a competição para perpetuar ainda
mais seus nomes na história do futebol.
A
partida mal começou e um primeiro lance já levou ao primeiro gol: após jogada
na entrada da área, Cristiano Ronaldo foi derrubado por Nacho, sofrendo pênalti
que ele mesmo converteu. A equipe espanhola iniciou a partida de maneira
diferente daquela que caracterizou o seu jogo, realizando mais lançamentos
longos e ligações com Diego Costa. Quem acompanhou a Euro de 2016 já sabe que
esta equipe espanhola já não consegue reproduzir o estilo de jogo apresentado
em 2010, principalmente pela ausência de um meia como Xavi, motor daquela
equipe treinada por Vicente del Bosque. O substituto ideal era Thiago
Alcântara, mas sabe-se lá por qual motivo Fernando Hierro decidiu deixar o
jogador no banco e apostar no aguerrido Koke. Aos poucos a equipe foi
encontrando uma regularidade, começando a trocar passes com mais frequência e
chegando mais próxima do gol de Rui Patrício. Ainda assim, Portugal não se
apequenou e passou a usar o espaço que a Espanha dava, abusando da velocidade de
um Ronaldo mais centralizado. Foi desta forma que a equipe encontrou duas
chances claras de gol: a primeira quebrada pela individualidade exagerada de
Gonçalo Guedes, a segunda desperdiçada por um apagado Bruno Fernandes. A
estrela do Sporting, aliás, não foi o único que desapareceu na partida, estando
todos os titulares muito abaixo do nível que se espera deles.
Sem
conseguir ampliar o placar, a Espanha conseguiu empatar em jogada de Diego
Costa, de maneira bem pouco tradicional para os espanhóis. Em bola alta lançada
para a frente, Costa subiu com Pepe, dividindo com o luso-brasileiro e
inclusive soltando o cotovelo em seu rosto. Pepe caiu no chão, pedindo a falta,
mas o árbitro nada marcou. Diego Costa seguiu e, marcado por dois jogadores,
deu dois ótimos cortes, acompanhados por um ótimo controle do corpo, para então
bater forte e rasteiro contra a meta de Patrício. Um golaço, é claro, mas que
deveria ser anulado. O VAR foi consultado, mas entendeu que a jogada fora
normal. Chegamos então naquilo que definiu a dinâmica do jogo até o fim: sempre
que uma equipe marcava, crescia, jogava seu futebol tradicional, e então sofria
um gol. Após bons momentos de Portugal, foi a vez da Espanha crescer, trocando
passes como se não houvesse amanhã e se aproveitando das individualidades de
seus jogadores, especialmente David Silva e Iniesta. Isco, apagado durante o
primeiro tempo, acertou a trave e a linha, encerrando o grande momento da
equipe. Encerrando por quê? Porque logo a equipe portuguesa achou um gol, após
falha grosseira de De Gea em finalização de Cristiano Ronaldo, o segundo do
craque. Fim de primeiro tempo.
As
equipes voltaram no mesmo ritmo, com Portugal defendendo bem uma Espanha que
não conseguia transformar posse de bola em finalizações. O empate espanhol
veio, mais uma vez em uma bola aérea, desta vez uma jogada ensaiada. Sem saber
como marcar os gigantescos espanhóis (isso geralmente passa batido quando
falamos de seleção espanhola, mas é bom lembrar que eles são GIGANTESCOS), os
portugueses deixaram Gonçalo Guedes marcando Busquets, justamente o alvo da
jogada ensaiada. O volante escorou para a área e Diego Costa finalizou mais uma
para o fundo das redes. A diferença deste gol para os anteriores é que desta
vez a equipe que marcou já conseguiu repetir a façanha rapidamente. Três
minutos depois, após boa troca de passes, Nacho acertou uma pancada espetacular
de fora da área. Virando enfim o jogo.
Esgotada,
a seleção portuguesa derreteu após este gol, deixando a Espanha tocar bola no
meio campo. O jogo ficou chato e algo precisa ser explicitado: o estilo de jogo
espanhol é eficiente, filosoficamente bem elaborado e muitas vezes bonito de se
ver, mas de vez em quando ele se torna um porre. Com Portugal inoperante,
Hierro decidiu tirar os dois melhores jogadores da equipe: Iniesta e Diego
Costa. Desta forma a Espanha perdeu em agressividade, deixando passar a
oportunidade de matar o jogo quando podia. Deu certo? Sim, deu bem certo. A
Espanha encaminhou a vitória e viu Portugal ter apenas uma oportunidade de
empatar, em cobrança de falta de Cristiano Ronaldo. O luso então fez isso:
Desta
forma Cristiano encerrou uma exibição de gala. A seleção portuguesa pega agora
o Marrocos, partida em que acho que terá muita dificuldade. A defesa de
Portugal não está encaixada, os laterais foram muito e o meio campo não criou
nada. Bruno Fernandes e Bernardo Silva precisam jogar mais do que o que
apresentaram hoje e a entrada de Gelson Martins talvez seja uma boa ideia. Além
disso, Quaresma é sempre uma boa opção para os segundos tempos em partidas mais
estagnadas. CR7 consegue atuar dessa forma sempre, mas não é saudável ficar
dependendo disto. Já pelo lado da Espanha, a atuação de hoje serviu para
mostrar que eles ainda são capazes de disputar jogos em alto nível, com ou sem
técnico. Só imagino que este estilo de jogo seria mais eficiente caso Thiago
estivesse entre os titulares e o treinador substituto não inventasse tanto nas
substituições, que foi o que basicamente aconteceu hoje.
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