sexta-feira, 15 de junho de 2018

Diário da Copa - Dia 2: ELE CHEGOU!






EGITO 0 X 1 URUGUAI

Com toda a expectativa em torno da participação ou não de Salah, o Egito foi para o campo contra o Uruguai cheio de vontade de fechar a bela caminhada até a Rússia. Com a ajuda de seu maior craque a seleção conseguiu uma vaga histórica para o mundial, algo que poucas vezes aconteceu mesmo sendo a maior potência continental no futebol. Contra eles, uma seleção uruguaia um pouco envelhecida, mas com alguns bons jovens talentos e as estrelas Cavani e Suárez. Além dos jogadores, o Uruguai também apresenta nesta Copa a última participação de Oscar Tabárez como treinador de futebol. O “Maestro” que conseguiu reviver o futebol nacional se despede após duas Copas do Mundo, sendo a mais marcante a edição de 2010, em que a Celeste chegou às semifinais do torneio.
Logo no anunciar da escalação a primeira e mais importante manchete do jogo: Mo Salah no banco. Mesmo sem a sua grande estrela, o Egito adotou uma postura razoavelmente ofensiva logo no início do jogo, avançando as linhas e marcando com força os volantes e os laterais. O resultado desta estratégia foi o fato de que passou a ser função dos zagueiros armar o jogo, ou seja, fazer lançamentos longos buscando Cavani e Suárez. Esta situação estagnou o ataque uruguaio, inutilizando completamente os dois volantes da equipe. Para piorar a situação da equipe sul-americana os dois meias, Arrascaeta e Nandes, não conseguiam ser eficientes em nada do que faziam, sendo lentos demais e falhando na alimentação dos atacantes. Arrascaeta, camisa 10 da equipe, só melhorou de fato quando passou a jogar mais por dentro, mas nem mesmo essa melhora evitou com que fosse substituído ainda no começo do segundo tempo. Se de um lado o Uruguai, não tinha criação de jogadas, do outro o Egito também não tinha. De alguma forma, o Uruguai utilizou a mesma estratégia que os árabes, subindo a marcação para tentar tirar Elneny do jogo. O resultado, no final, foi um primeiro tempo muito travado, poucas jogadas bem armadas e atuações individuais fracas. Do lado Uruguaio, Godín e Varela conseguiam ser os jogadores mais incisivos, o que é bem maluco quando pensamos que ambos são defensores. Já do lado Egípcio, o bom destaque foi Warda, que entrou justamente no lugar no lugar de Salah e, além de fazer algum barulho pelo lado direito, também ajudou demais na contenção do setor esquerdo uruguaio.


No segundo tempo pouca coisa mudou, mesmo com as substituições de Cuper e Tabárez. Sem Salah, o Egito seguiu a sua estratégia, mas com um pouco menos de ímpeto, passando a se fechar mais e apostando nos contra-ataques. A estratégia até foi boa, bons lances foram criados, mas nenhum foi de fato aproveitado. Em alguns momentos era clara a ausência que Salah fazia, não havendo alguém pudesse aproveitar os espaços para correria que o Uruguai passou a dar. O time de Tabarez também não mudou tanto a postura, mas com o cansaço do adversário a equipe sentiu que poderia ser mais agressiva. Suárez teve boas chances de abrir o placar, mas foi com Cavani que as melhores chances surgiram. Primeiro com uma pancada espetacularmente defendida pelo goleiro, depois com uma falta cobrada na trave. Sentindo o momento, o Uruguai cresceu, mas cresceu de uma forma que o Egito não esperava. Sem saber como reagir à postura do adversário, os egípcios deixaram de contra-atacar, se recolhendo demais na defesa. Aos 44 minutos de jogo, com a partida quase acabando, Sanchez jogou bola na área e o zagueirão Jimenéz subiu mais alto que todo mundo para dar a vitória na estreia para o Uruguai.
O que podemos tirar desta partida é que o Uruguai tem problemas seríssimos quanto à criação: os volantes foram muito mal e os meias abertos simplesmente não participaram do jogo. Ainda assim, há na seleção uruguaia um espírito inabalável, além da equipe contar com um ataque espetacular e uma dupla de zaga que pode garantir até mesmo quando a equipe tem atuações abaixo da média como a de hoje. Já do lado dos faraós, a volta de Salah é essencial, mas a equipe de apoio é boa o suficiente para ajudar a estrela. O sistema defensivo é razoável e o meio até consegue criar situações. O jogo contra a Rússia certamente será empolgante.


MARROCOS 0 X 1 IRÃ

O primeiro jogo do grupo B na Copa incluiu as duas seleções mais fracas possíveis: Marrocos e Irã. Ainda assim, havia alguma expectativa para o jogo, afinal era a oportunidade de ver a equipe mais quente da África e os melhores das eliminatórias asiáticas. Enquanto o Marrocos se destaca pela quantidade de jogadores jovens que atuam em mercados futebolisticamente fortes, o Irã se destaca pela consistência demonstrada nas últimas grandes competições internacionais. Obviamente esta era uma partida que a grande maioria iria deixar passar, mas havia ainda alguma esperança de que o jogo pudesse ser pelo menos divertido. não foi.
Logo que a bola rolou já deu para ver qual seria a toada da partida: uma equipe atacando e outra defendendo. Com mais talento individual, o Marrocos jogou a partida inteira no ataque, mostrando um bom toque de bola nos primeiros momentos, além de jogadas ensaiadas e um bom posicionamento dos jogadores. Com os laterais muito avançados, especialmente Amrabat, a equipe atacou de maneira consistente, fazendo viradas de jogo e buscando o gol o tempo todo. Com esse ritmo mais agressivo, todos os jogadores passaram a entrar no jogo: Ziyech trocava bem as posições com Amrabat, buscava o jogo e flutuava muito bem pelo campo. Outro jogador que fez a mesma coisa foi Belhanda, o que deu um ritmo de jogo muito bonito para essa primeira metade do primeiro tempo. Além destes dois, outro destaque foi Harit. O jovem jogador do Schalke fez uma partida muito boa durante todos os 90 minutos: driblou, marcou e passou a bola, sendo o grande destaque da equipe na partida.


Enquanto isso, o Irã simplesmente olhava o Marrocos jogar, esperando os contra-ataques. Em uma dessas, no final do primeiro tempo, a equipe iraniana teve a melhor chance do jogo até ali, sendo parada duas vezes pelo goleiro marroquino. A ausência de talento atrapalhou demais a seleção do Irã, mas, diferente do que vimos ontem com a Arábia Saudita, a boa defesa do selecionado garantia o empate sem gols. Já durante o segundo tempo o jogo mudou, mas mudou para pior. Sem conseguir criar, Marrocos começou a se frustrar, errando muitos passes simples, e de alguma forma a equipe pareceu mais displicente no jogo. Confortável com a situação, o Irã foi simplesmente esperando o tempo passar, até que enfim pudesse voltar com o seu pontinho sonhado. O jogo, que começara agitado, tornou-se um marasmo, o pior da competição até aqui. E só piorou quando Amrabat saiu de campo pelo lado do Marrocos após uma lesão na cabeça. Sem forças, o Marrocos apagou, desapareceu. O Irã, que já estava satisfeito com o empate, conseguiu uma última chance, nos acréscimos, com uma jogada de bola parada. O cruzamento foi cortado pelo defensor marroquino, mas do contrário e contra a própria meta. 1x0 para o Irã.
Em um grupo com duas potências, Irã e Marrocos naturalmente seriam azarões, disputando simplesmente para ver que seria o último. Ainda que haja uma clara crise na seleção espanhola, é quase impossível imaginar que uma destas equipes possa eliminar um dos favoritos ao título. Só é uma pena que, neste momento, a equipe mais próxima disso seja justamente a pior.

PORTUGAL 3 X 3 ESPANHA

Depois de duas partidas horrorosas (ou três, sei lá), enfim uma partida do nível que a Copa do Mundo merece. Com atuações espetaculares, golaços, polêmicas e viradas, as seleções portuguesas e espanholas fizeram o melhor jogo da competição até aqui. Vinda de uma semana atribulada, cheia de crises internas e com um técnico que assumiu ONTEM, a seleção espanhola entrou em campo decidida a demonstrar que ainda estava com o controle da situação e que de fato deveria ser considerada a favorita da competição. Depois de uma exibição dominante contra a Alemanha e um atropelo contra a Argentina, quase todas as bolsas de apostas apontavam a Fúria como a grande favorita dessa edição. Do outro lado, uma seleção portuguesa renovada em partes, bem diferente daquela que conquistou a Euro de 2016, e buscando conquistar uma última taça enquanto poderia utilizar a sua grande estrela da história. Além das histórias das seleções, há também neste jogo a história dos jogadores: Cristiano Ronaldo e Iniesta jogam as suas últimas Copas em alto nível e buscam usar a competição para perpetuar ainda mais seus nomes na história do futebol.
A partida mal começou e um primeiro lance já levou ao primeiro gol: após jogada na entrada da área, Cristiano Ronaldo foi derrubado por Nacho, sofrendo pênalti que ele mesmo converteu. A equipe espanhola iniciou a partida de maneira diferente daquela que caracterizou o seu jogo, realizando mais lançamentos longos e ligações com Diego Costa. Quem acompanhou a Euro de 2016 já sabe que esta equipe espanhola já não consegue reproduzir o estilo de jogo apresentado em 2010, principalmente pela ausência de um meia como Xavi, motor daquela equipe treinada por Vicente del Bosque. O substituto ideal era Thiago Alcântara, mas sabe-se lá por qual motivo Fernando Hierro decidiu deixar o jogador no banco e apostar no aguerrido Koke. Aos poucos a equipe foi encontrando uma regularidade, começando a trocar passes com mais frequência e chegando mais próxima do gol de Rui Patrício. Ainda assim, Portugal não se apequenou e passou a usar o espaço que a Espanha dava, abusando da velocidade de um Ronaldo mais centralizado. Foi desta forma que a equipe encontrou duas chances claras de gol: a primeira quebrada pela individualidade exagerada de Gonçalo Guedes, a segunda desperdiçada por um apagado Bruno Fernandes. A estrela do Sporting, aliás, não foi o único que desapareceu na partida, estando todos os titulares muito abaixo do nível que se espera deles.
Sem conseguir ampliar o placar, a Espanha conseguiu empatar em jogada de Diego Costa, de maneira bem pouco tradicional para os espanhóis. Em bola alta lançada para a frente, Costa subiu com Pepe, dividindo com o luso-brasileiro e inclusive soltando o cotovelo em seu rosto. Pepe caiu no chão, pedindo a falta, mas o árbitro nada marcou. Diego Costa seguiu e, marcado por dois jogadores, deu dois ótimos cortes, acompanhados por um ótimo controle do corpo, para então bater forte e rasteiro contra a meta de Patrício. Um golaço, é claro, mas que deveria ser anulado. O VAR foi consultado, mas entendeu que a jogada fora normal. Chegamos então naquilo que definiu a dinâmica do jogo até o fim: sempre que uma equipe marcava, crescia, jogava seu futebol tradicional, e então sofria um gol. Após bons momentos de Portugal, foi a vez da Espanha crescer, trocando passes como se não houvesse amanhã e se aproveitando das individualidades de seus jogadores, especialmente David Silva e Iniesta. Isco, apagado durante o primeiro tempo, acertou a trave e a linha, encerrando o grande momento da equipe. Encerrando por quê? Porque logo a equipe portuguesa achou um gol, após falha grosseira de De Gea em finalização de Cristiano Ronaldo, o segundo do craque. Fim de primeiro tempo.


As equipes voltaram no mesmo ritmo, com Portugal defendendo bem uma Espanha que não conseguia transformar posse de bola em finalizações. O empate espanhol veio, mais uma vez em uma bola aérea, desta vez uma jogada ensaiada. Sem saber como marcar os gigantescos espanhóis (isso geralmente passa batido quando falamos de seleção espanhola, mas é bom lembrar que eles são GIGANTESCOS), os portugueses deixaram Gonçalo Guedes marcando Busquets, justamente o alvo da jogada ensaiada. O volante escorou para a área e Diego Costa finalizou mais uma para o fundo das redes. A diferença deste gol para os anteriores é que desta vez a equipe que marcou já conseguiu repetir a façanha rapidamente. Três minutos depois, após boa troca de passes, Nacho acertou uma pancada espetacular de fora da área. Virando enfim o jogo.
Esgotada, a seleção portuguesa derreteu após este gol, deixando a Espanha tocar bola no meio campo. O jogo ficou chato e algo precisa ser explicitado: o estilo de jogo espanhol é eficiente, filosoficamente bem elaborado e muitas vezes bonito de se ver, mas de vez em quando ele se torna um porre. Com Portugal inoperante, Hierro decidiu tirar os dois melhores jogadores da equipe: Iniesta e Diego Costa. Desta forma a Espanha perdeu em agressividade, deixando passar a oportunidade de matar o jogo quando podia. Deu certo? Sim, deu bem certo. A Espanha encaminhou a vitória e viu Portugal ter apenas uma oportunidade de empatar, em cobrança de falta de Cristiano Ronaldo. O luso então fez isso:



Desta forma Cristiano encerrou uma exibição de gala. A seleção portuguesa pega agora o Marrocos, partida em que acho que terá muita dificuldade. A defesa de Portugal não está encaixada, os laterais foram muito e o meio campo não criou nada. Bruno Fernandes e Bernardo Silva precisam jogar mais do que o que apresentaram hoje e a entrada de Gelson Martins talvez seja uma boa ideia. Além disso, Quaresma é sempre uma boa opção para os segundos tempos em partidas mais estagnadas. CR7 consegue atuar dessa forma sempre, mas não é saudável ficar dependendo disto. Já pelo lado da Espanha, a atuação de hoje serviu para mostrar que eles ainda são capazes de disputar jogos em alto nível, com ou sem técnico. Só imagino que este estilo de jogo seria mais eficiente caso Thiago estivesse entre os titulares e o treinador substituto não inventasse tanto nas substituições, que foi o que basicamente aconteceu hoje.

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