terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Como o seu time ganha dinheiro

            A baixa do real em relação ao euro está simplesmente matando as equipes brasileiras. O Corinthians desmanchou, o Santos perdeu o talentoso Geuvânio e ninguém conseguiu chegar nem perto de contratar algum jogador de peso na inter temporada. Em meio a esta situação encontramos um ótimo momento para entender como os clubes conseguem fazer dinheiro: afinal, de onde vem o dinheiro dos clubes de futebol? Este post foi inspirado por um ótimo vídeo do “The Telegraph”, jornal inglês que faz umas das melhores coberturas da Premier League na imprensa local. O que faremos aqui então será avaliar os principais mecanismos de entrada de dinheiro nas equipes.

Ed Woodward: o homem que contratou aquele monte de jogador meia boca do Manchester Utd.
            Matchdays:

            Matchday é um termo inglês para os dias em que ocorre jogo na Premier League. A matéria do Telegraph diz que o Manchester United fez 108 milhões de libras na temporada 13/14 (a última de Alex Ferguson) entre ingressos e serviços do estádio. É importante, porém, entendermos que um matchday na Inglaterra não chega nem perto do que ocorre no Brasil. Lá, os torcedores tem a ida ao estádio como o grande evento do final de semana. Se o jogo começa as 16:00, por exemplo, as famílias ou grupos de amigos chegam algumas horas antes para que possam almoçar e depois disso usam os serviços do local, especialmente bares e lojas. Os estádios, portanto, são bem mais que o lugar onde ocorrerá o jogo, mas sim um pequeno shopping para que os torcedores possam desfrutar (e gastar suas libras) as horas que passarem lá. No Brasil alguns estádios já usam este sistema de estádio, especialmente os mais novos. A equipe do Corinthians, por exemplo, acertou em 2014 um contrato de 40 milhões de reais com uma empresa que realizaria os serviços de bar e restaurante e que também repassaria um montante do lucro à equipe. O acordo não vingou em virtude da má qualidade dos serviços mostrados, mas serviu para demonstrar quão lucrativo este tipo de serviço pode ser para uma equipe.
O dinheiro que entra dos jogos é fundamental, ficando atrás apenas dos direitos televisivos. O Palmeiras, por exemplo, teve uma receita líquida de 43 milhões de reais somente com bilheteria em 2015.

Stamford Bridge até é bonito, mas só em Bragança Paulista tem aquele lanche top de linguiça.
 
            Direitos de transmissão e patrocínios gerais:

            Nada dá mais dinheiro para uma equipe do que os direitos de transmissão. Isso em qualquer esporte coletivo, em qualquer liga de ponta. Algumas dessas ligas: a Barclays Premier League recebe um bilhão de libras anualmente das emissoras e a NBA recebe ABSURDOS 2,6 bilhões de dólares. Aqui nós trabalhamos com valores mais humildes, mas ainda assim bem altos: 1,6 bilhão de reais. Contudo é importante lembrar que estes valores são divididos de forma desproporcional. Enquanto tanto na Inglaterra como na NBA a divisão ocorre de maneira a manter o equilíbrio econômico e, portanto, técnico, no Brasil as equipes de maior torcida e audiência simplesmente levam boa parte do bolo das transmissões. A diferença é gritante. Corinthians e Flamengo receberão 170 milhões cada um, enquanto gigantes como Cruzeiro e Grêmio não receberão mais que 60 milhões. E quanto menos torcida pior: o América, recém-chegado a série A, terá apenas 20 milhões das cotas. Os valores dos direitos de transmissão são enormes e fundamentais para as equipes, mas o que impressiona nesses valores é que eles poderiam ser ainda maiores.
Além dos valores de transmissão há também valores menores pagos por empresas que querem expor suas marcas nas competições realizadas pela confederação organizadora. Na Inglaterra a Barclays patrocina a divisão principal enquanto a Sky Bet patrocina a segunda. Aqui no Brasil isso acontece no campeonato paulista da Federação Paulista de Futebol, que acaba sendo chamado de Paulistão Itaipava após a cervejaria fechar um acordo de oito milhões com a FPF.

            Patrocínios particulares e Naming Rights:

            Cada clube pode assinar seus próprios patrocínios que serão estampados em camisas ou até mesmo os chamados Naming Rights da equipe. A própria Itaipava tem demonstrado muito interesse na expansão da sua marca por meio do futebol, comprando os naming rights de duas arenas de Copa do Mundo: a Arena Fonte Nova na Bahia e a Arena Pernambuco. Nesta última foram pagos 10 milhões de reais por exclusividade nos bares e pela mudança de nome do estádio pela duração de 10 anos.
            Já os outros patrocínios buscam estampar a camisa ou as placas publicitárias nas entrevistas coletivas. Mas, ainda que geralmente sejam altos os valores destes patrocínios, raras são as equipes que conseguem se virar com apenas um patrocínio, gerando aquelas camisas horrorosas com logos de marcas em quase toda a sua extensão. Hoje ninguém paga tanto patrocínio como a Caixa. Em 2013 o Banco Estatal gastou mais de 100 milhões divididos entre 14 equipes das séries A, B e C (uma das equipes com contrato, o Vasco recebeu 15 milhões para estampar a marca na camiseta, maior contrato de uma equipe da Série B).
            Por último nós temos os promissores contratos de material esportivo. Na Europa os valores já começam a se transformar na principal fonte de renda dos clubes, com equipes grandes como o Manchester United assinando com a Adidas por singelos 1,3 bilhões de reais por 10 anos. O São Paulo se destacou recentemente aqui no Brasil pelo contrato com a Under Armour por 135 milhões por 10 anos. É um valor bem abaixo do surreal pago para o Manchester, mas já é sinal de que a tendência se espalhará por aqui também.


            Produtos oficiais:

            Os valores de rendimento entre os produtos oficiais não são tão altos e nem mesmo são divulgados, mas é um retorno garantido para o clube, especialmente quando há uma fã-base boa. Na vinda de Ronaldo ao Corinthians, por exemplo, o jogador tinha direito a todos os lucros que a equipe teria com a venda de sua camisa. Além de camisas, são vendidos DVD’s, chaveiros, bonés e variados tipos de objetos que dão um bom retorno oficial ao clube. A loja do Corinthians no Parque São Jorge conseguiu 8,1 milhões em 2012 (ano em que a equipe ganhou Libertadores e Mundial). São oito milhões gastos em uma loja física, em uma cidade de um país. O lucro total então pode ser muito maior para o clube, sendo parte essencial da receita.

            Transferências:

            Este é o modo mais conhecido e generalizado sobre como uma equipe pode conseguir dinheiro. A venda de jogadores pode gerar muito dinheiro para a equipe e é aquilo que consegue manter certo equilíbrio em favor das equipes menores. Um atleta da base que tem todo seu passe relacionado ao clube pode render financeiramente um absurdo para a equipe, ou mesmo quando o clube tem só parte dos direitos pode fazer muito dinheiro. O Corinthians, durante seu desmanche, já conseguiu 71 milhões de reais que ajudarão o clube a desafogar a dívida com bancos. Só que mais importante que isso: Jádson, Ralf e Vágner Love vieram de graça para a equipe, enquanto Gil e Renato Augusto vieram por um preço muito menor do que aquele que foram vendidos. De vez em quando comprar pode ser tão lucrativo quanto vender, como acontece no caso de Felipe Anderson. O jogador que custou sete milhões de Euros para a Lazio agora tem valor de mercado em 20 milhões, mas interessa a equipes milionárias que podem pagar muito mais que isso pelo jogador.

"Eterna promessa" eles disseram.
            Sócio Torcedor:

            O programa de sócio torcedor é a moda da vez nos clubes brasileiros. A ideia veio da Europa e foi implantada com muito sucesso pelo Internacional aqui no Brasil. Após verem o sucesso do programa colorado, várias equipes começaram seus próprios programas de fidelização de torcedores. O resultado é que hoje o Brasil tem três times no top 10 mundial de sócios: Internacional, Palmeiras e Corinthians. Neste último ano o Avanti deu ao Palmeiras um lucro de 36 milhões de reais. E a tendência é aumentar no futuro.

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