quinta-feira, 7 de julho de 2016

Por que a Bélgica (ainda) perde

A sempre badalada seleção belga entrou em mais uma competição como favorita e mais uma vez foi eliminada, levando ao delírio os fãs do Júnior Baiano e seus semelhantes em todo o mundo. O twitter ficou louco e novamente a qualidade da ótima geração belga® foi questionada. Tentamos entender neste post porque a Bélgica não consegue vencer: eles amarelam? São preguiçosos? O treinador é ruim? Spoiler: sim para todas as respostas.


Na saudosa Copa do Mundo de 2014 a seleção que mais chamava atenção antes da bola rolar era a Bélgica. Com um elenco atlético, alguns do melhores defensores do mundo e um ataque de jovens talentos, a seleção belga era considerada a mais forte entre as seleções sem tanta tradição no futebol. O problema é que eles nunca conseguiram responder esta expectativa mesmo tendo vencido os três jogos da fase de grupo. Todos os gols da equipe na competição saíram depois dos 30 minutos do segundo tempo, demonstrando uma absurda ineficiência para finalizar as jogadas. Tamanha dificuldade para marcar ficou clara na melhor partida da equipe na competição, nas oitavas, contra a seleção dos Estados Unidos. Neste jogo Tim Howard quebrou o recorde de maisdefesas em uma Copa do Mundo com dezesseis delas, tendo sido vazado apenas aos três minutos da prorrogação. O problema, para muitos, era a juventude do setor ofensivo. Lukaku tinha apenas 21 anos, Origi 19 e a dupla De Bruyne e Hazard 23. A eliminação nas quartas do mundial deu a impressão de que em pouco tempo eles conseguiriam encontrar algum padrão de jogo e que finalmente poderiam disputar títulos contra as grandes seleções.
Entre o mundial e a Eurocopa da França os belgas se colocaram entre os melhores do mundo de uma vez por todas. Com um ótimo retrospecto nas eliminatórias e nos amistosos conseguiram alcançar o primeiro lugar no ranking de seleções da FIFA. O retrospecto era ainda mais animador do que o encontrado em 2014: as grandes seleções estavam em baixa e ninguém tinha um elenco tão forte quanto o belga. O único desfalque da equipe titular era Vincent Kompany, mas o zagueiro parecia poder ser facilmente substituído pelo ótimo Toby Alderweireld. Tudo parecia estar no caminho certo, até que a competição começou.
O grande problema dessa seleção belga é o desequilíbrio de seus talentos entre os setores do campo. São quatro ótimos centroavantes, quatro bons meias ofensivos e alguns outros bons talentos meio campo central. Jogadores como Benteke, Origi, Batshuay, Fellaini, Mertens e Dembelé poderiam ser titulares em muitas das seleções desta Eurocopa, mas não têm a mínima condição de atuarem no lugar de Hazard, De Bruyne, Witsel e Lukaku. Mas esta riqueza não aparece no setor defensivo da equipe. A boa defesa de 2014 formada por Van Buyten, Kompany, Alderweireld e Vertonghen sofreu alterações, especialmente pelas laterais. Alderweireld caiu para a zaga e Meunier assumiu a lateral direita, enquanto Vermaelen ficou responsável pela vaga de Van Buyten. A defesa da equipe desse ano não se garantia muito bem contra jogadas abertas dos adversários, criando um desequilíbrio no posicionamento da linha defensiva. Meunier e Vertonghen são lentos demais para acompanhar jogadores incisivos como Candreva e Darmian, o que exigiu que os alas (De Bruyne e Hazard) tivessem que voltar muito para marcar.

Status: mais perdido que Meunier.
Fazer com que os alas belgas voltem é basicamente destiná-los ao fracasso. Todo o jogo ofensivo passa por contra-ataques rápidos e eficientes. De Bruyne e Hazard são velozes e passam muito bem, mas quanto maior a distância entre eles e Lukaku, maior a dificuldade da bola chegar para o centroavante. E olha que não dá pra contestar os contras da equipe: contra a Irlanda os três gols saíram de jogadas assim e o mesmo se repetiu na ótima partida contra a Hungria.
O desempenho decepcionante na competição deixou claro que o problema é mais tático do que técnico. Marc Wilmots não consegue entender que a equipe não tem laterais de verdade: o improvisado Jordan Lukaku comprometeu demais quando o já não tão bom assim Vertonghen desfalcou a equipe e Meunier é um desastre no apoio ofensivo. Não seria mais honesto assumir a deficiência e abandonar o esquema de jogo? Com três zagueiros eles poderiam equilibrar a linha defensiva e ainda teriam um jogador a mais no meio campo para realizar uma pressão alta. Foi assim que a Itália e Gales conseguiram derrotá-los, afinal ambas jogam no 3-5-2 e foram infernais contra os laterais lentos da Bélgica.
É claro que é impossível jogar com três zagueiros e não exigir que os alas marquem o tempo todo. Aí é que mora o perigo: Hazard e De Bruyne (especialmente o segundo) não parecem estar muito conectados com o que acontece em campo e acabam passando uma imagem de displicência. Ambos seriam fundamentais na recomposição do sistema defensivo, mas certamente precisam mostrar mais vontade em campo. Se fossem obrigados a marcar, responderiam bem ou fariam cara feia? Se a segunda opção for a correta, talvez não mereçam ser convocados.
O próximo passo da seleção belga deveria ser uma urgente troca de treinador. Wilmots é odiado por todos do elenco e há alguns bons treinadores belgas com bem mais experiência que ele. Michel Preud’homme, um dos maiores goleiros da história, já foi eleito melhor treinador belga em três oportunidades e é o favorito da torcida e dos jornalistas do país, mas a vaga também pode ser ocupada pelo simpático Hein Vanhaezebrouck ou pelo recém-desempregado Louis Van Gaal. Todos são bons nomes, mas já devem saber que o tarefa é árdua. Ridicularizada por ser símbolo da nova geração de torcedores, a Bélgica tem os jogadores necessários para brigar por títulos no nível mundial. Mais do que jogar bem no vídeo game, seus jogadores são estrelas nas principais ligas do mundo e movimentam milhões em cada janela de transferência; falta levar isso para o âmbito nacional.

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