A sempre badalada seleção belga entrou em mais uma
competição como favorita e mais uma vez foi eliminada, levando ao delírio os
fãs do Júnior Baiano e seus semelhantes em todo o mundo. O twitter ficou louco
e novamente a qualidade da ótima geração belga®
foi questionada. Tentamos entender neste post porque a Bélgica não consegue vencer:
eles amarelam? São preguiçosos? O treinador é ruim? Spoiler: sim para todas as
respostas.
Na saudosa Copa do Mundo de 2014 a seleção que mais
chamava atenção antes da bola rolar era a Bélgica. Com um elenco atlético,
alguns do melhores defensores do mundo e um ataque de jovens talentos, a seleção
belga era considerada a mais forte entre as seleções sem tanta tradição no
futebol. O problema é que eles nunca conseguiram responder esta expectativa
mesmo tendo vencido os três jogos da fase de grupo. Todos os gols da equipe na
competição saíram depois dos 30 minutos do segundo tempo, demonstrando uma
absurda ineficiência para finalizar as jogadas. Tamanha dificuldade para marcar
ficou clara na melhor partida da equipe na competição, nas oitavas, contra a
seleção dos Estados Unidos. Neste jogo Tim Howard quebrou o recorde de maisdefesas em uma Copa do Mundo com dezesseis delas, tendo sido vazado apenas aos
três minutos da prorrogação. O problema, para muitos, era a juventude do setor
ofensivo. Lukaku tinha apenas 21 anos, Origi 19 e a dupla De Bruyne e Hazard
23. A eliminação nas quartas do mundial deu a impressão de que em pouco tempo
eles conseguiriam encontrar algum padrão de jogo e que finalmente poderiam
disputar títulos contra as grandes seleções.
Entre o mundial e a Eurocopa da França os belgas se
colocaram entre os melhores do mundo de uma vez por todas. Com um ótimo
retrospecto nas eliminatórias e nos amistosos conseguiram alcançar o primeiro
lugar no ranking de seleções da FIFA. O retrospecto era ainda mais animador do
que o encontrado em 2014: as grandes seleções estavam em baixa e ninguém tinha
um elenco tão forte quanto o belga. O único desfalque da equipe titular era
Vincent Kompany, mas o zagueiro parecia poder ser facilmente substituído pelo
ótimo Toby Alderweireld. Tudo parecia estar no caminho certo, até que a
competição começou.
O grande problema dessa seleção belga é o
desequilíbrio de seus talentos entre os setores do campo. São quatro ótimos
centroavantes, quatro bons meias ofensivos e alguns outros bons talentos meio
campo central. Jogadores como Benteke, Origi, Batshuay, Fellaini, Mertens e
Dembelé poderiam ser titulares em muitas das seleções desta Eurocopa, mas não
têm a mínima condição de atuarem no lugar de Hazard, De Bruyne, Witsel e
Lukaku. Mas esta riqueza não aparece no setor defensivo da equipe. A boa defesa
de 2014 formada por Van Buyten, Kompany, Alderweireld e Vertonghen sofreu
alterações, especialmente pelas laterais. Alderweireld caiu para a zaga e
Meunier assumiu a lateral direita, enquanto Vermaelen ficou responsável pela
vaga de Van Buyten. A defesa da equipe desse ano não se garantia muito bem
contra jogadas abertas dos adversários, criando um desequilíbrio no
posicionamento da linha defensiva. Meunier e Vertonghen são lentos demais para
acompanhar jogadores incisivos como Candreva e Darmian, o que exigiu que os alas
(De Bruyne e Hazard) tivessem que voltar muito para marcar.
Fazer com que os alas belgas voltem é basicamente
destiná-los ao fracasso. Todo o jogo ofensivo passa por contra-ataques rápidos
e eficientes. De Bruyne e Hazard são velozes e passam muito bem, mas quanto
maior a distância entre eles e Lukaku, maior a dificuldade da bola chegar para
o centroavante. E olha que não dá pra contestar os contras da equipe: contra a
Irlanda os três gols saíram de jogadas assim e o mesmo se repetiu na ótima
partida contra a Hungria.
O desempenho decepcionante na competição deixou
claro que o problema é mais tático do que técnico. Marc Wilmots não consegue
entender que a equipe não tem laterais de verdade: o improvisado Jordan Lukaku
comprometeu demais quando o já não tão bom assim Vertonghen desfalcou a equipe
e Meunier é um desastre no apoio ofensivo. Não seria mais honesto assumir a
deficiência e abandonar o esquema de jogo? Com três zagueiros eles poderiam
equilibrar a linha defensiva e ainda teriam um jogador a mais no meio campo
para realizar uma pressão alta. Foi assim que a Itália e Gales conseguiram
derrotá-los, afinal ambas jogam no 3-5-2 e foram infernais contra os laterais
lentos da Bélgica.
É claro que é impossível jogar com três zagueiros e
não exigir que os alas marquem o tempo todo. Aí é que mora o perigo: Hazard e
De Bruyne (especialmente o segundo) não parecem estar muito conectados com o
que acontece em campo e acabam passando uma imagem de displicência. Ambos
seriam fundamentais na recomposição do sistema defensivo, mas certamente
precisam mostrar mais vontade em campo. Se fossem obrigados a marcar,
responderiam bem ou fariam cara feia? Se a segunda opção for a correta, talvez
não mereçam ser convocados.
O próximo passo da seleção belga deveria ser uma urgente
troca de treinador. Wilmots é odiado por todos do elenco e há alguns bons
treinadores belgas com bem mais experiência que ele. Michel Preud’homme, um dos
maiores goleiros da história, já foi eleito melhor treinador belga em três
oportunidades e é o favorito da torcida e dos jornalistas do país, mas a vaga também
pode ser ocupada pelo simpático Hein Vanhaezebrouck ou pelo recém-desempregado
Louis Van Gaal. Todos são bons nomes, mas já devem saber que o tarefa é árdua. Ridicularizada
por ser símbolo da nova geração de torcedores, a Bélgica tem os jogadores
necessários para brigar por títulos no nível mundial. Mais do que jogar bem no vídeo
game, seus jogadores são estrelas nas principais ligas do mundo e movimentam milhões
em cada janela de transferência; falta levar isso para o âmbito nacional.
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