domingo, 10 de abril de 2016

Você é modinha!!!

            Pra que time você torce? Palmeiras? Corinthians? Flamengo? Guarani? E por que você torce para esse time? O mais comum é torcer pelo time da família, do pai. A pessoa que apresenta o futebol para você geralmente vai te influenciar a torcer por um time: se seu pai for palmeirense você vai provavelmente torcer pelo Palmeiras. Mas os meios para decidir por quem você torce podem ser outros também. Tem aqueles acabam se identificando com as cores e a torcida de um time, com o momento de determinado jogador, com o time da cidade ou simplesmente com a equipe que mais tem jogos transmitidos na TV. No Brasil sempre foi assim, mas recentemente algumas pessoas começaram a fugir destas situações. Muito graças à perda do interesse dos pais (que ainda não aceitaram o fim dos anos 90) pela situação atual do esporte, estamos vendo um interessante fenômeno de abandono do futebol nacional pelos jovens que cada vez mais parecem se interessar pelo futebol internacional. Tentaremos aqui elencar razões e consequências do nascimento dos odiados torcedores ~MODINHA~.


             De onde eles nascem:
            Mais importante que qualquer influência do meio é o fato de que o time esteja jogando bem. Ninguém quer torcer pelo time que perde ou que é rebaixado. Isso é visível quando avaliamos a quantidade de torcedores que o São Paulo conseguiu entre 2005 e 2008, assim como a torcida do Santos, que teve um crescimento vertiginoso de torcedores na era Neymar. Ninguém quer ser o corintiano zoado quando o time é rebaixado, o palmeirense quando o time toma quatro do Água Santa ou o Vascaíno que só ganha Série B. Torcer pelo time que está ganhando não é algo vexaminoso, mas sim algo natural e que acomete a todos. Partindo deste princípio, fica difícil encontrar no futebol brasileiro uma equipe que nos últimos anos tenha demonstrado um forte domínio em anos seguidos. O Cruzeiro, bicampeão brasileiro em 2013 e 2014, fez uma fraquíssima temporada em 2015 e, pior, perdeu vários jogadores identificados com a torcida e não trouxe outros para reformar esta identificação. Talvez as grandes equipes brasileiras pós-tricampeonato brasileiro do São Paulo sejam Atlético Mineiro e Corinthians. Ambos ganharam a Libertadores e mantiveram-se, ano após ano, ganhando títulos e montando equipes que atraiam os olhos dos torcedores. Torcer para a equipe campeã do mundo é sempre muito legal, assim como é legal torcer para o time que traz em pouco tempo jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Robinho.
Essa instabilidade que ocorre na maioria dos clubes brasileiros acaba afastando os torcedores e levando-os a torcer por equipes de outros países. É assim que equipes como Barcelona, Manchester City, PSG e Real Madrid conseguem ganhar tantos fãs ao redor do mundo. O torcedor do Barcelona não precisa se preocupar com a possibilidade da equipe ser rebaixada um ano após ser campeã (tipo o que aconteceu com o Flamengo depois de 2009). A pior coisa que pode acontecer na temporada deles é uma eliminação nas quartas da Champions ou um segundo lugar na Liga Espanhola. Há também o fator de que estas equipes juntam grandes estrelas do mundo todo e há vários torcedores que, antes de torcer por um time, torcem por um atleta. Imagine só quantos jovens santistas fãs do Neymar na época do Santos hoje não declaram-se barcelonistas. Agora imagina o que acontece com os jovens de todo o mundo que veem Messi e Cristiano Ronaldo jogando em alto nível toda semana.
E é importante entender que essas equipes europeias não jogam sozinhas, mas sim disputam competições grandes, contra equipes de alto nível e conseguem produzir jogos espetaculares para o público. O último fator é também o mais importante. As grandes equipes realizam processos sérios de internacionalização de suas marcas, contratando jogadores de diferentes países e continentes (reparem que eu disse a palavra “sério”, nada disso de ficar contratando jogador chinês que não é conhecido nem mesmo na China). Eles vendem a exibição de seus jogos para o mundo todo, vendem (e fabricam) produtos oficiais em outros países, abrem lojas físicas em shoppings e aeroportos e realizam turnês internacionais durante a pré-temporada. Uma alienação tão forte somada ao desinteresse com o futebol nacional acaba rendendo o nascimento dos “torcedores modinhas”

Imagens exclusivas do nascimento do PSG.

            Eles estão errados?
            Chovem críticas na internet quando alguém diz que torce por um time europeu. É só aparecer um “meu Barça” nos comentários do Globo Esporte que surgem milhares de patriotas com seus confusos argumentos. É compreensível que um torcedor não aceite muito bem essa tendência, mas de vez em quando parece ser mais inveja que inconformismo. Como já disse antes, o fato é que ninguém tem vontade de torcer por um time que só está perdendo e nem para uma equipe que não mantem os jogadores principais de seu elenco. Torcer é se identificar. O torcedor gremista torce por uma equipe aguerrida, que dá carrinho e bate muito. O santista torce por um time leve e habilidoso. O corintiano torce por uma equipe raçuda e falastrona. Torcer é apoiar e se identificar com a identidade do presente e do passado do clube, coisa que nos tempos atuais é raro encontrar no Brasil. Já na Europa nós podemos ver equipes encaixadas e entrosadas. Não há tanta troca de jogadores e quando se muda de técnico não se abandona a identidade. Usando alguns exemplos: o torcedor do Arsenal sabe exatamente como a equipe vai jogar antes da temporada começar (e geralmente chora por isso); o torcedor do Borussia Dortmund sabe que, mesmo que mude o treinador, a equipe vai continuar jogando no contra-ataque. Você começa torcendo por um clube que tem um rosto definido e termina torcendo por este mesmo clube depois de algum tempo. Esse já é um ótimo motivo para você torcer por um time de fora.
Outro ponto: o nível do futebol brasileiro é MUITO inferior ao futebol europeu. Não importa o jogo. Pode ser clássico regional, jogo entre líderes da liga nacional ou até uma final de Libertadores. Não tem jogo que ocorra fora da Europa que chegue perto do nível europeu. Uma partida entre equipes médias na Inglaterra como West Ham e Southampton terá jogadores mais habilidosos, talentosos e caros que qualquer jogo entre times brasileiros. E com certeza veremos um nível técnico e tático muito superior. Ou seja, o torcedor modinha tem muito mais bom gosto (e bom senso) do que o torcedor comum.


             Mas e o futebol brasileiro?
            A tendência é sempre piorar. Os clubes e confederações parecem estar cada vez mais preocupados em ganhar dinheiro por meio de cotas de televisão e com a venda de jogadores, deixando de se preocupar com o produto que apresentam. Para que o futebol brasileiro atraia mais torcedores será necessária uma nova abordagem que busque a permanência dos atletas e dos treinadores, além de uma melhor distribuição de renda na liga nacional para que o nível técnico seja maior. Viabilidade disso? Nenhuma. O futebol será sempre um esporte amado pelos brasileiros, praticado recorrentemente pelas crianças e objeto de ascensão social. Mas o futebol brasileiro vai sempre cair em popularidade e apreço, abrindo espaço a expansão dos gigantes europeus no país. E os torcedores que agora são chamados de “modinha” serão os precursores de um fenômeno.

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