Pra que time você torce? Palmeiras?
Corinthians? Flamengo? Guarani? E por que você torce para esse time? O mais
comum é torcer pelo time da família, do pai. A pessoa que apresenta o futebol
para você geralmente vai te influenciar a torcer por um time: se seu pai for
palmeirense você vai provavelmente torcer pelo Palmeiras. Mas os meios para
decidir por quem você torce podem ser outros também. Tem aqueles acabam se
identificando com as cores e a torcida de um time, com o momento de determinado
jogador, com o time da cidade ou simplesmente com a equipe que mais tem jogos
transmitidos na TV. No Brasil sempre foi assim, mas recentemente algumas
pessoas começaram a fugir destas situações. Muito graças à perda do interesse
dos pais (que ainda não aceitaram o fim dos anos 90) pela situação atual do
esporte, estamos vendo um interessante fenômeno de abandono do futebol nacional
pelos jovens que cada vez mais parecem se interessar pelo futebol internacional.
Tentaremos aqui elencar razões e consequências do nascimento dos odiados
torcedores ~MODINHA~.
De onde eles nascem:
Mais importante que qualquer
influência do meio é o fato de que o time esteja jogando bem. Ninguém quer
torcer pelo time que perde ou que é rebaixado. Isso é visível quando avaliamos
a quantidade de torcedores que o São Paulo conseguiu entre 2005 e 2008, assim
como a torcida do Santos, que teve um crescimento vertiginoso de torcedores na
era Neymar. Ninguém quer ser o corintiano zoado quando o time é rebaixado, o
palmeirense quando o time toma quatro do Água Santa ou o Vascaíno que só ganha
Série B. Torcer pelo time que está ganhando não é algo vexaminoso, mas sim algo
natural e que acomete a todos. Partindo deste princípio, fica difícil encontrar
no futebol brasileiro uma equipe que nos últimos anos tenha demonstrado um
forte domínio em anos seguidos. O Cruzeiro, bicampeão brasileiro em 2013 e
2014, fez uma fraquíssima temporada em 2015 e, pior, perdeu vários jogadores
identificados com a torcida e não trouxe outros para reformar esta
identificação. Talvez as grandes equipes brasileiras pós-tricampeonato brasileiro
do São Paulo sejam Atlético Mineiro e Corinthians. Ambos ganharam a
Libertadores e mantiveram-se, ano após ano, ganhando títulos e montando equipes
que atraiam os olhos dos torcedores. Torcer para a equipe campeã do mundo é
sempre muito legal, assim como é legal torcer para o time que traz em pouco
tempo jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Robinho.
Essa instabilidade que ocorre na maioria dos clubes
brasileiros acaba afastando os torcedores e levando-os a torcer por equipes de
outros países. É assim que equipes como Barcelona, Manchester City, PSG e Real
Madrid conseguem ganhar tantos fãs ao redor do mundo. O torcedor do Barcelona
não precisa se preocupar com a possibilidade da equipe ser rebaixada um ano
após ser campeã (tipo o que aconteceu com o Flamengo depois de 2009). A pior
coisa que pode acontecer na temporada deles é uma eliminação nas quartas da
Champions ou um segundo lugar na Liga Espanhola. Há também o fator de que estas
equipes juntam grandes estrelas do mundo todo e há vários torcedores que, antes
de torcer por um time, torcem por um atleta. Imagine só quantos jovens
santistas fãs do Neymar na época do Santos hoje não declaram-se barcelonistas.
Agora imagina o que acontece com os jovens de todo o mundo que veem Messi e
Cristiano Ronaldo jogando em alto nível toda semana.
E é importante entender que essas equipes europeias
não jogam sozinhas, mas sim disputam competições grandes, contra equipes de
alto nível e conseguem produzir jogos espetaculares para o público. O último
fator é também o mais importante. As grandes equipes realizam processos sérios
de internacionalização de suas marcas, contratando jogadores de diferentes
países e continentes (reparem que eu disse a palavra “sério”, nada disso de
ficar contratando jogador chinês que não é conhecido nem mesmo na China). Eles
vendem a exibição de seus jogos para o mundo todo, vendem (e fabricam) produtos
oficiais em outros países, abrem lojas físicas em shoppings e aeroportos e
realizam turnês internacionais durante a pré-temporada. Uma alienação tão forte
somada ao desinteresse com o futebol nacional acaba rendendo o nascimento dos “torcedores
modinhas”
Eles estão errados?
Chovem críticas na internet quando
alguém diz que torce por um time europeu. É só aparecer um “meu Barça” nos
comentários do Globo Esporte que surgem milhares de patriotas com seus confusos
argumentos. É compreensível que um torcedor não aceite muito bem essa
tendência, mas de vez em quando parece ser mais inveja que inconformismo. Como
já disse antes, o fato é que ninguém tem vontade de torcer por um time que só
está perdendo e nem para uma equipe que não mantem os jogadores principais de
seu elenco. Torcer é se identificar. O torcedor gremista torce por uma equipe
aguerrida, que dá carrinho e bate muito. O santista torce por um time leve e
habilidoso. O corintiano torce por uma equipe raçuda e falastrona. Torcer é
apoiar e se identificar com a identidade do presente e do passado do clube,
coisa que nos tempos atuais é raro encontrar no Brasil. Já na Europa nós
podemos ver equipes encaixadas e entrosadas. Não há tanta troca de jogadores e
quando se muda de técnico não se abandona a identidade. Usando alguns exemplos:
o torcedor do Arsenal sabe exatamente como a equipe vai jogar antes da temporada
começar (e geralmente chora por isso); o torcedor do Borussia Dortmund sabe que,
mesmo que mude o treinador, a equipe vai continuar jogando no contra-ataque.
Você começa torcendo por um clube que tem um rosto definido e termina torcendo
por este mesmo clube depois de algum tempo. Esse já é um ótimo motivo para você
torcer por um time de fora.
Outro ponto: o nível do futebol brasileiro é MUITO
inferior ao futebol europeu. Não importa o jogo. Pode ser clássico regional, jogo
entre líderes da liga nacional ou até uma final de Libertadores. Não tem jogo
que ocorra fora da Europa que chegue perto do nível europeu. Uma partida entre
equipes médias na Inglaterra como West Ham e Southampton terá jogadores mais
habilidosos, talentosos e caros que qualquer jogo entre times brasileiros. E
com certeza veremos um nível técnico e tático muito superior. Ou seja, o
torcedor modinha tem muito mais bom gosto (e bom senso) do que o torcedor
comum.
Mas e o futebol brasileiro?
A tendência é sempre piorar. Os
clubes e confederações parecem estar cada vez mais preocupados em ganhar
dinheiro por meio de cotas de televisão e com a venda de jogadores, deixando de
se preocupar com o produto que apresentam. Para que o futebol brasileiro atraia
mais torcedores será necessária uma nova abordagem que busque a permanência dos
atletas e dos treinadores, além de uma melhor distribuição de renda na liga
nacional para que o nível técnico seja maior. Viabilidade disso? Nenhuma. O
futebol será sempre um esporte amado pelos brasileiros, praticado
recorrentemente pelas crianças e objeto de ascensão social. Mas o futebol
brasileiro vai sempre cair em popularidade e apreço, abrindo espaço a expansão
dos gigantes europeus no país. E os torcedores que agora são chamados de “modinha”
serão os precursores de um fenômeno.
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