segunda-feira, 4 de abril de 2016

Análise Tática: Palmeiras x Corinthians

            Uma das propostas deste blog é trazer para a discussão do futebol mais análises táticas onde possamos entender melhor o que cada treinador está fazendo no jogo. A ideia nasceu graças a minha irritação com os comentaristas brasileiros que se limitam ao “ele foi pra linha de fundo, cruzou e o centroavante fez o gol”. O futebol deve ser analisado como um jogo de movimentação, espaçamento e alternância tática. É por isso que hoje iniciamos uma nova série de post aqui: Análise Tática. Tentarei fazer uma análise profunda em partidas que eu ver pelo menos uma vez por mês. E para começar, nada melhor que o clássico paulista que botou frente a frente dois dos melhores treinadores brasileiros da história recente: Cuca x Tite. Palmeiras x Corinthians.

            Os dois clubes foram para a partida com retrospectos bem distintos. O Corinthians é o líder do seu grupo e da tabela geral, se classificou com antecedência e vem de uma boa campanha na fase de grupos da Libertadores. Já o Palmeiras havia perdido quatro das cinco últimas partidas, fazendo uma péssima campanha na competição continental e brigando pela vaga nas semifinais. O elenco do Palmeiras é o mais caro do Brasil, mas ainda assim a equipe entrou mais como uma azarona. Já o reformulado Corinthians era o favorito mais claro.
O Palmeiras veio para o jogo com um 4-4-2 bem tradicional, com Jean na lateral e Zé Roberto no meio de armação. Já o Corinthians entrou com o seu tradicional 4-1-4-1, variando Guilherme e Giovanni Augusto nas posições de passador e ala. Os primeiros minutos de jogo serviram para mostrar qual seria a toada do primeiro tempo. Quando não tinha a posse de bola, o Palmeiras avançava os meias de armação para o ataque e os laterais para o meio, fazendo duas linhas com jogadores velozes demais. O resultado foi uma boa quantidade de roubadas e vários erros que o time de Tite não costuma cometer. Com quatro jogadores segurando a linha de defesa adversária, os palmeirenses nem precisavam se preocupar em compactar e aproximar a linha do meio campo com o ataque, afinal a única coisa que o time alvinegro poderia fazer seria lançar a bola direto para o ataque. E foi isso mesmo que o Tite fez. Os defensores começaram a jogar a bola para frente, esperando que Giovanni Augusto, Guilherme, André e Lucca conseguissem ganhar na velocidade dos zagueiros palestrinos. Alguns bons passes foram efetuados, mas nenhum chegou limpo para a finalização ou armação. Méritos para Cuca: ao forçar o time corintiano no jogo de profundidade o treinador facilitou o jogo para os seus defensores, especialmente para o rápido Victor Hugo.

Duas linhas de quatro jogadores bem avançadas pressionando a saída de bola do Corinthians
Com o Corinthians neutralizado Cuca já poderia pensar em atacar, mas ai ele encontrou com um esquema tão forte quanto seu. A grande sacada do Palmeiras foi usar o seu centroavante não como uma referência, mas como um armador que flutuava pelo campo. Alecsandro foi o melhor jogador do ataque palmeirense (escrever isso me dá uma certa tristeza, mas é verdade), usando muito bem seu corpo para proteger a bola e distribuir o jogo. A estratégia só não funcionou melhor porque o Corinthians ignorou totalmente a existência de Alecsandro. Na teoria, um dos zagueiros deveria sair para marcar o camisa 29, mas os dois ficaram guardando a posição, o que acabou isolando demais Gabriel Jesus. O desmarcado (especialmente porque Bruno Henrique é um desastre defensivo – e ofensivo) Alecsandro conseguiu jogar com tranquilidade, mas Gabriel era marcado em qualquer lado que fosse. O jeito era usar os lados, mas o Pacaembu viu uma exibição defensiva espetacular dos jogadores de lado do Corinthians. Zé Roberto, Robinho e Jean foram anulados e o único que ameaçou foi Egídio. O primeiro tempo foi uma guerra defensiva e até mesmo por isso seria injusto que qualquer uma das equipes fosse derrotada no período. Ainda que o Palmeiras tenha sido mais agressivo com a sua pressão alta, a rigidez defensiva do Corinthians impediu qualquer chance de maior perigo.
            Diferente do que era esperado, ninguém realmente mexeu na postura das equipes. O Corinthians seguiu tentando lançamentos ineficientes e o Palmeiras continuou focando seu jogo na defesa alta. A diferença é que a primeira linha de combate agora ficava mais distante da defesa corintiana, o que deixou a partida um pouco mais monótona. Foi só com a entrada de Romero que o jogo ganhou mais ação, ainda que o paraguaio raramente conseguisse concluir uma jogada. Com mais poder de ataque, o Corinthians teve seu momento de maior pressão no jogo, conseguindo um pênalti aos 30 minutos de jogo numa trapalhada de Thiago Martins (que, verdade seja dita, fez ótima partida). Lucca bateu baixo no canto e Fernando Prass fez uma espetacular defesa. Com o Corinthians ainda tentando assimilar o golpe, o Palmeiras jogou a bola para área na jogada seguinte e a zaga corintiana esqueceu de marcar Dudu, que ainda contou erro grosseiro de Cássio para matar o jogo. Com o Corinthians morto e sem nenhuma criatividade, foi só esperar o tempo passar e garantir os três pontos.

Com mais profundidade o jogo de Thiago Martins e Vitor Hugo seria dificultado
O grande destaque da partida foi Cuca. O treinador montou um esquema que forçou o time de Tite a jogar como uma equipe dos anos 90, com muitas bolas altas e dependendo muito do erro adversário. Méritos também para como os jogadores assimilaram a ideia do treinador e mantiveram a pressão alta durante todo o jogo. Em vários momentos podemos ver os jogadores mais experientes posicionando seus companheiros no campo. É sempre muito mais fácil para o treinador contar com jogadores que entendam de fato aquilo que ele quer eles façam e que consigam se adaptar a realidade do que está acontecendo em campo. Por outro lado, seria injustiça os corintianos jogarem a culpa do resultado em Tite. Se não fosse o erro na cobrança do pênalti, o Corinthians sairia com os três pontos e estariam todos falando sobre como o time consegue arrancar gols e se segurar bem na defesa. O grande problema que eu vi foi a dificuldade que os alvinegros tiveram para passar as duas linhas que Cuca apresentou logo no começo de jogo. É difícil para o treinador mexer na equipe logo no começo apenas para corrigir algum erro, mas imagino que o mais correto seria colocar Romero (entrando no lugar de André) e Lucca centralizados no ataque e uma linha de três armadores com Elias, Guilherme e Giovanni Augusto. Esta formação obrigaria Cuca a desfazer as linhas de quatro avançadas, afinal Romero e Lucca seriam muito mais perigosos para a defesa palmeirense num jogo de velocidade do que André. Fazer isso e ver o que o técnico adversário tentaria seria bem melhor do que aceitar o jogo proposto por eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário