Chegou a hora das oitavas na Champions League e eu preparei um review especial (quero dizer enorme) para os jogos que ocorrerão. Então não vamos ficar de lero-lero e descobrir como as equipes devem se comportar na volta do maior campeonato de clubes do mundo antes que algum outro jogador faça besteira.
Paris Saint German x Chelsea
Retrospecto
O Chelsea está capengando no campeonato nacional,
ocupando a 14ª posição na Premier League. Não há mais chances de chegar às
equipes da frente, mas houve uma boa melhora após a saída de José Mourinho. A
saída do português, inclusive, criou um enorme mal estar entre jogadores e
torcedores. A relação de Mourinho com os jogadores era horrível, tendo o
treinador criticado seus comandados publicamente em vários momentos. A resposta
da torcida foi ficar do lado de Mourinho, maior ídolo clube, e, logo no
primeiro jogo do time após a demissão, vaiar colossalmente os jogadores na
entrada em campo. Hoje quem comanda a equipe é o holandês Guus Hiddink.
Já a equipe do PSG tem sido dominante.
Na liga nacional eles lideram com 21 vitórias, três empates e nenhuma derrota e
têm um total de 61 gols marcados e 11 sofridos. É claro que o nível do
campeonato francês é inferior quando relacionado aos outros grandes da Europa,
mas só mesmo o ótimo desempenho do time justifica essa superioridade. Na fase
de grupos da própria Champions o PSG só tomou um gol na competição numa falha
grosseira de Kevin Trapp contra o Real Madrid. Não é exagero dizer que o clube
francês é muito favorito contra o Chelsea.
O que o PSG precisa fazer para ganhar
Eu passei a semana inteira
escrevendo este texto, até que ontem eu descobri que Aurier simplesmente fez chover merda dentro do elenco do PSG. Van der Wiel, o substituto, é bom jogador,
mas não chega nem perto do jogo do marfinense (especialmente na defesa). O time do
Chelsea se baseia em forçar o jogo pelas pontas, especialmente pelo lado
esquerdo onde Hazard dribla, corta para o meio e busca o último passe. No meio
a equipe tem o costume de trocar vários passes e, quando necessário, forçar
bolas para Diego Costa resolver nas suas trombadas. Os laterais, Azpilicueta e
Ivanovic, são altos, lentos e são melhores na defesa que no ataque. Portanto a
equipe parisiense precisa fazer o lateral direito marcar Hazard e evitar que
ele pegue na bola. Van der Wiel precisa marcar em cima e ser incisivo no bote, mas
não deve ficar preso nele. Quando Hazard cortar para o meio cabe a Verratti
cair na marcação, enquanto o lateral holandês se posiciona na linha de passe do
lateral esquerdo adversário que deve descer. O mesmo vale para o outro lado,
com Matuidi e Maxwell dobrando em Willian. Se você matar o jogo canteiro força
o Chelsea a fazer os lançamentos para Diego Costa, dai é só deixar que Thiago
Motta, David Luiz e Thiago Silva façam o serviço e o Chelsea já era.
Para fazer gols é importante que a equipe force
jogadas pelo alto, especialmente quando você tem ótimos jogadores pelo nas jogadas aéreas como Ibrahimovic e Cavani. A jogada é simples: Di Maria recebe do lado direito,
Van der Wiel passa nas costas (podendo não só ir para a linha de fundo, mas
também cortando para a área), Azpilicueta vai atrás do lateral e então o
argentino pode lançar a bola na área (mas sempre é bom evitar um confronto pelo alto com Ivanovic, no lado direito da defesa londrina). Terry e Cahill não
vão aguentar a pressão de jogadores mais altos e fortes, mas caso isso não dê
certo eles podem tentar forçar chutes de fora recuando um pouco Ibra,
especialmente porque Fabregas (principalmente ele) e Mikel não são
especialistas em defesa. Não é preciso fazer nenhuma mudança no sistema
tradicional, só entender os defeitos do Chelsea e jogar o seu jogo.
Reparem que Van der Wiel, Thiago Silva e Verratti poderão marcar Hazard sem nem ter que se descolar muito. |
O que o Chelsea precisa fazer para ganhar
O esquema montado pelo técnico Laurent Blanc é muito
gostoso de assistir. Os jogadores parecem flutuar em suas zonas designadas.
Parece loucura, mas muitas vezes o time parece atacar por zona, sem correr
tanto de um lado pro outro, mas sempre se movendo para achar espaços livres. Eles
atacam bem pelos lados, pelo meio, pelo alto e em lançamentos. Ou seja: o
inferno na terra. E o que você faz quando você enfrenta um time assim?
Estaciona o ônibus! Não é o bonito, não é legal, não é bacana. Só que é isso ai
que dá pra fazer. Primeiro você precisa parar as laterais. Willian e Hazard
precisam voltar e defender como laterais, podendo assim parar Van der Wiel e Maxwell, que
avançam muito. Fazendo isso, Di Maria e Cavani acabariam sendo marcados pelos
laterais e ainda sobrariam dois zagueiros para parar Ibrahimovic. Para
completar o sistema defensivo só faltaria um jogador para defender Matuidi,
função que pode ser desempenhada por Obi Mikel. É necessário esforço e MUITA
concentração para fazer o “parking the bus”, mas se desempenhar bem o plano
fica quase impossível para o PSG conseguir marcar um gol.
O ônibus bem estacionado e a equipe pode se
preocupar em contra-atacar. Para isso é preciso que Mikel (ou Matic) e Fabregas
estejam com a pontaria equilibrada para soltar a bola nos jogadores da frente.
Hazard e Willian precisam correr muito para abrir o campo nas pontas enquanto
Oscar e o centroavante vão para a área (o problema talvez seja encontrar, mesmo
no contra-ataque, uma defesa muito bem arrumada). Supondo que o Chelsea jogue
na velocidade, não seria nenhum absurdo pensar na entrada de Pato no lugar do
Diego Costa. Com esse quarteto ofensivo eles podem simplesmente atropelar os
zagueiros do time francês, correndo como se não houvesse amanhã. Não vai ser
fácil, mas aceitando a sua inferioridade o Chelsea pode sim chega às quartas de
final.
Benfica x Zenit
Retrospecto
No jogo mais “sei lá” das oitavas temos o embate
entre a equipe que tem dominado o Campeonato Português contra a equipe que
dominou o Campeonato Russo nos últimos anos. O Benfica briga pela liderança
numa acirrada disputa contra o Sporting enquanto o Zenit tem tido muitas
dificuldades para chegar ao topo: ocupa a quarta posição, sete pontos atrás do
CSKA. A equipe russa não disputa partidas oficiais desde dezembro em virtude da
paralisação por causa do inverno no país. A primeira (e também a segunda)
partida oficial de 2016 será logo pela Champions League. Isso deve atrapalhar
muito, afinal eles provavelmente não mostrarão o ritmo necessário para
acompanhar o Benfica, mas pelo menos poderão focar totalmente nos dois jogos
das oitavas.
O que o Benfica precisa fazer para ganhar
O Zenit joga como uma equipe inglesa: muitos passes
no meio que antecipam jogadas abertas. E essas jogadas abertas geralmente
encontram Hulk, que normalmente corta para dentro buscando um espaço aberto
para finalizar ou simplesmente achar um jogador para dar uma assistência: na
liga nacional são 12 assistências e oito gols. Ele pode não ser um dos mais
adorados jogadores brasileiros dos últimos anos, mas definitivamente é um dos
melhores brazucas na Europa. O problema para a equipe do Zenit é que ele É o
time inteiro. Sem Hulk a equipe russa não passa de um amontoado de jogadores
que eventualmente ganham alguma coisa. Logo, o Benfica deve focar todo o seu
jogo em evitar que o ponta consiga jogar com a bola. Eliseu e Jardel devem
sempre dobrar no atacante: o lateral buscando a bola e o zagueiro fechando a
linha de passe.
O resto do time não assusta muito: o centro-avante é
um grandalhão desajeitado e Shatov não deve assustar. Mas é importante que a
equipe tome cuidado com o meio da equipe russa, Witsel é bom passador e precisa
ser acompanhado de perto por Renato Sanchez. No ataque é só esperar que as coisas
aconteçam naturalmente. Jonas é o artilheiro da Europa, Jiménez é muito bom e
Gaitán está no melhor momento da carreira. Ainda que a defesa russa não seja
horrível, nesse confronto é o ataque português que leva muita vantagem. Parece
simples, mas eu realmente não acredito que os dragões lusos conseguirão parar
Hulk. Não conseguiam quando ele jogava no Porto, não devem conseguir com ele no
Zenit.
O que o Zenit precisa fazer para ganhar
O Benfica não é nenhum monstro, mas parece ser um
pouco mais organizado que o Zenit. A grande dificuldade é entrar no sistema
compactado: um 4-4-2 com meio campistas rápidos e de bom passe. O Zenit então
vai precisar tocar muita bola com os zagueiros e, se possível, atrasar um
volante para que as jogadas possam ser construídas. Mas o mais importante é
criar espaços para Hulk, trocando o atacante de posição. Ele não pode ficar
fixado no lado direito, afinal isso facilita a adaptação do adversário. Outro
jogador importante é Danny, que precisa cortar mais para dentro da área para
surpreender os zagueiros. Lindelof e Jardel são altos, então colocar um pouco
de velocidade dentro da área pode ser um bom caminho para marcar gols.
Só que o Zenit não pode esquecer as costas. Gaitán,
Samaris, Gonçalo Guedes e Renato Sanchez são rápidos demais e não precisam de
mais do que três passes para colocar a bola em condição de ser finalizada. Uma
opção é adiantar a linha de zagueiros de forma a forçar impedimentos. É
estranho, mas de vez em quando muito espaço para contra atacar acaba
desacelerando a equipe. O Zenit terá que estar fisicamente perfeito: Hulk e
Shatov vão precisar voltar para marcar e os zagueiros precisarão parar a forte
dupla de ataque portuguesa. Jonas finaliza muito bem, então ele não pode
receber a bola de frente para o gol. O jogo vai ser de muita correria e o time
russo parece se encaixar muito bem no estilo de jogo do Benfica, mas um momento
de desatenção e o jogo pode ir para o saco.
Essa é a equipe base da primeira fase da Champions, mas Kokorin e Zhirkov devem jogar como titulares. |
Gent x Wolfsburg
Retrospecto
Se Zenit e Benfica é um jogo difícil de acertar o
classificado, em Gent e Wolfsburg temos o confronto mais aleatório das oitavas.
O simples fato de uma dessas duas equipes estarem nas quartas já é bem
surpreendente. O Wolfsburg venceu apenas uma das últimas oito partidas na liga
nacional, ocupando a oitava posição no torneio. O jogo contra o Schalke 04, por
exemplo, foi um passeio para os adversários: 3 a 0. Mas ao menos na Champions
eles fizeram uma boa campanha, eliminando na fase de grupos equipes como o CSKA
e o gigante Manchester United. A vitória na última rodada contra os ingleses
foi a cereja do bolo para uma equipe talentosa, mas desorganizada taticamente.
O outro azarão, o Gent, está empatado na ponta da liga belga e tem feito um
campeonato regular após se classificar em segundo no grupo mais fraco da
competição, que tinha também o Valencia, o Lyon e o Zenit.
O que o Gent precisa fazer para ganhar
Pedir ajuda para deus. Sério. É muito improvável que
os belgas cheguem as quartas e isso por causa de um fator específico: o elenco
é muito limitado. Sven Kums, maestro da equipe, fez uma temporada surreal na
edição 14/15 da Jupiler League e vem repetindo a dose nessa temporada. O
problema é que é ele e mais ninguém. E essa falta de qualidade técnica dos
jogadores não vai resistir contra o amontoado de craques que é o Wolfsburg. O
maior problema do time alemão é o fato deles não saberem controlar o ritmo do
jogo, atacando de maneira pouco organizada e contando com os lampejos de seus
craques. Ainda assim, o Wolfsburg costuma ter muita posse de bola e forçar
ataques pelas pontas. O ideal então é que o Gent não se comporte como uma
equipe pequena e marque pressão alta durante boa parte do jogo. É importante
forçar Naldo e Dante a lançar as bolas direto para o ataque para tentar cortar
com mais facilidade. Se o Wolfsburg tiver espaço para tocar a bola fica muito
difícil para os belgas. Outra coisa importante é vencer o primeiro jogo, que
será em casa. Para isso eles vão precisar forçar muitos chutes de fora da área
já que entra na defesa alemã é muito difícil. Vencer um e segurar o outro é o
que pode levar o Gent até as quartas de final.
O que o Wolfsburg precisa fazer para ganhar
Vejam o que é sorte: você cai num grupo com o
Manchester United e PSV, se classifica em primeiro e encara a maior zebra da
competição. O Wolfsburg montou aquele que é hoje o terceiro melhor elenco do
país e tem grandes chances de entrar na briga particular entre Dortmund e
Bayern. Só falta que aprendem a jogar futebol. No último jogo contra o Schalke
pela liga nacional eles tomaram um baile: não acertavam as dobras nos pontas,
deixavam espaços abertos e faziam a defesa ficar totalmente desguarnecida. No
ataque total falta de criatividade, jogadas abertas de qualquer jeito e nenhuma
variação tática. Se o Gent acertar um jeito de defender eles ficará exposto à
incapacidade de Dieter Hecking de adaptar a equipe. O WhoScored lista três
problemas principais da equipe: aceitar muitos chutes de fora, sofrer muitos
contra-ataques e não segurar a liderança quando consegue sair na frente. A
solução seria botar outro defensor no meio campo para ajudar Luis Gustavo na
contenção (possivelmente o lateral direito Christian Trasch) e deixar que os
quatro jogadores de frente fiquem livres para atacar. Isso já serve para
impedir os chutes de fora e os contra-ataques do Gent. No mais, eles são
franco-favoritos: Ricardo Rodriguez é um dos melhores laterais do mundo, Naldo
é o melhor zagueiro a pisar na Alemanha desde os anos 70/80, além dos ótimos
Schürrle e Julian Draxler. É tanto jogador bom e tanta superioridade em relação
ao adversário que parece loucura achar que eles possam cair antes das quartas.
Mas podem.
Roma x Real Madrid
Retrospecto
A Roma chega as oitavas com pouquíssimas chances de
vencer, fazendo uma campanha mediana no campeonato italiano. Ou seja, nada
anormal para eles. E depois de tomar um chocolate homérico contra o Barça na
fase de grupos eles vão se encontrar com o Real Madrid. Agora nós sabemos de
quem o Wolfsburg pegou toda aquela sorte. Do lado espanhol, após uma
espetacular primeira fase, deixando o PSG para trás e com Ronaldo fazendo 11
gols em seis jogos, o Real Madrid volta para a Champions tendo este como o
único campeonato possível de ganhar. A Copa do Rei já foi (após serem
desclassificados por escalação irregular) e o campeonato espanhol já é do
Barcelona. A única maneira de salvar a desastrosa temporada é ganhando a
Champions League.
O que a Roma precisa fazer para ganhar
A lesão de Bale no meio da temporada pode ser
encarada como algo positivo para os italianos, mas força o time a se adaptar a
uma formação desconhecida do time. James tem jogado no lugar do galês e as
jogadas estão bem menos forçadas naquele setor do campo. Com Bale eles têm
velocidade para chegar até a linha de fundo, coisa que James não consegue
fazer. O ideal é uma marcação homem a homem em todos os jogadores de frente.
Não parece muito inteligente contra uma equipe com jogadores tão habilidosos,
mas vejam: Manolas marca Ronaldo, Rüdiger marca James e De Rossi fica no
Benzema. Enquanto isso Florenzi/Torosidis e Digne caem para dobrar nos pontas e
evitar as descidas de Marcelo/Carvajal e Danilo. Para marcar os meias ficam
Nainggolan e Pjanic e Dzeko fica centralizado. Mas o segredo são os pontas.
Salah e El-Shaarawy precisam ficar postados atrás para prender os dois laterais
do real e em todas as oportunidades de contra-ataque Pjanic precisa lança-los
para estabelecer a posição. Se conseguir segurar os laterais do time espanhol,
serão os laterais da Roma que poderão avançar. O segredo para a Roma vencer é saber
contra-atacar e sufocar os atacantes madrilenos.
Chésny? Skezeni? Melhor deixar o campo do goleiro em branco. |
O que o Real Madrid precisa fazer para ganhar
Não perder na Itália. A Roma tem péssimo retrospecto
fora de casa e o Real não deve perder em seus territórios. O grande problema do
Real Madrid de Benitez durante toda a temporada foi o péssimo meio campo que
usava três volantes passadores que não marcavam ninguém. Rafa Benitez foi
embora, mas a equipe continua jogando no mesmo esquema e com os mesmos
jogadores. Acredito que Zidane entenda a dificuldade que sua equipe apresenta
no meio, mas ainda tem um pouco de medo de modificar e dar tudo errado (coisa
de treinador novo).
A lesão de Bale é a situação ideal para mudar o
esquema tático. Benzema precisa ficar centralizado no ataque e Ronaldo pode
abandonar a ponta para virar um verdadeiro segundo atacante. Enquanto isso
James faria o papel de armador central (a posição que nunca deu certo no Real
Madrid após a aposentadoria de Zidane) e Kross e Modric seriam os meias de
distribuição. A mudança então vem com a saída de Kovacic para a entrada de um
volante de contenção, Casemiro. Fazendo isso eles conseguem fortalecer o meio
campo e permitem que os laterais possam apoiar da maneira que Zidane gosta. O
jogador da Roma que mais assusta é Pjanic, ótimo passador que é o cérebro do
time. É fundamental que os volantes cubram as linhas de passe e evitem que a
bola chegue à frente com facilidade de ser dominada. O Real é muito superior ao
time italiano e apenas uma catástrofe poderia eliminá-los nesta fase do
campeonato.
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